As minhas ilusões - Florbela Espanca e Ilusões?Ainda as terei? - Giovânia Correia
As minhas ilusões
Florbela Espanca
Hora sagrada dum entardecer
De Outono, à beira-mar, cor de safira,
Soa no ar uma invisível lira...
O sol é um doente a enlanguescer...
A vaga estende os braços a suster,
Numa dor de revolta cheia de ira,
A doirada cabeça que delira
Num último suspiro, a estremecer!
O sol morreu...e veste luto o mar...
E eu vejo a urna de oiro, a balouçar,
À flor das ondas, num lençol de espuma.
As minhas Ilusões, doce tesoiro,
Também as vi levar em uma urna de oiro,
No mar da Vida, assim...uma por uma...
Ilusões?Ainda as terei?
Giovânia Correia
Hora dispersa, bem outonal.
Nada pra mim é cativante.
Entregue,tudo é tão formal.
Estou num viver angustiante.
O vazio se estende ao redor.
O sofrer vai me dilacerando.
Será que ainda vai ficar pior?
Pois fico aqui só chorando.
Florbela, a esmo estamos.
Nos versos talvez achamos.
Uma maneira de desabafar.
Ilusões?Ainda as terei?
Nada mais eu sou ou sei.
Começo de novo a chorar...