Um ponto no meio do nada // Tua completude em mim
Sou essa angústia que te engole no burburinho do vento.
Sê a alegria que me ilumina ao nascer do dia.
Sou essa pedra que sapateia nos teus pés.
Sê a maciez da areia que me enfeita nua.
Sou essa fresta de luz que incomoda tua visão.
Sê o raio de sol que tangencia meus sonhos.
Sou esse cisco que arrelia teus olhos.
Sê a lágrima que me chora ao sexo.
Sou essa alergia que te arrelia a pele.
Sê o arrepio que sinto sem sentir frio.
Sou esse espinho que te faz doer à palma dos pés.
Sê o orvalho que me escorre às pernas.
Sou essa aspereza das tuas mãos.
Sê o afago que me projeta em fantasia.
Sou esse pigarro na tua garganta.
Sê o grito que me ordenha o prazer.
Sou esse cheiro forte no teu nariz.
Sê a fragrância que me excita à paixão.
Sou esse ruído ensurdecedor nos teus ouvidos.
Sê o gemido que me extravasa o tesão.
Sou essa secura travosa na tua boca.
Sê a saliva que te passo em folia.
Sou esse silêncio que ressoa na mais profunda calmaria.
Sê a inquietude que me faz gostosa.
Sou esse martelar constante na tua cabeça.
Sê o carinho que me enlouquece a razão.
Sou esse inseto que teima em te picar.
Sê o animal que me refaz felina.
Sou esse pó asfixiante que se atira sobre ti.
Sê o desejo louco que me retira o ar.
Sou a insônia que te consome noite após noite.
Sê o sono que me adormece ao sonho do depois.
Sou tudo que parece ter sido concebido para te perseguir.
Sê a concepção de tudo o que me faz feliz.
Enfim sou qualquer coisa que tira teu sossego.
Enfim, sê o inferno e a paz que me levam ao êxtase.
E serei assim até tua rendição.
E sê o motivo que me arrasta aos teus pés.
A essa ensandecida paixão que me faz penar e me deixa sem chão.
Satisfaz esta mulher-pecado que te deseja em paixão.
Publicado no Grupo Duetos da Rede Cultural Poetas e Escritores do Amor e da Paz.
Rio de Janeiro, 27 de junho de 2010 - 17h.
Inspiração inicial: Poema "Um ponto no meio de nada", da autoria de Zaymon Zarondy, publicado em: http://silviamota.ning.com/profiles/blogs/um-ponto-no-meio-do-nada