Amar, colher flores e odiar, é só Começar!
A gênese, o prefácio da existência humana deveria ser: "Não há nada tão ruim, que não fique pior".
Não hesite em acreditar e tome o aforismo como desafio cotidiano. Com efeito, quando as flores, o barco a vela, o arrebol crepuscular, uma Lua soberana, as estrelas e demais coisas fora do contexto negarem emoldurar o quadro de paisagem, - negarem emoldurar o seu quadro artístico de paisagens ilusórias - sofrerás menos.
Bem, uma observação: onde lestes sofrerás menos, entenda: se decepcionará menos, pois ninguém sofre, ninguém sente na pele o efeito de bombas que não explodiram, não causaram tragédias próximo, bem próximo dEle. Empatia e lágrimas não possuem apenas parâmetros bem definidos, mas também limite e distância segura.
Se amar, colher flores e odiar, é só começar, então, iniciemos uma coisa ou outra, ou ambas.
"Não todos, pois em tudo há regras e exceções, mas a maioria dos antigos, com seus cabelos grandes desalinhados, unhas felpudas, pés cascudos, semblantes parados no tempo, beiços besuntados por palavras diretas e retas, bocas com poucos dentes e menos ainda, sorrisos, tinham um ar de gente honesta. Olha, os tais antigos que falo, tinham um jeito singelo de serem gente, comprometida com gente. Ou engano, Ditinha? "
- engana, não, Seo Dermeval. O compadre lembra, pessoas iguais as descritas, eram chamadas de sistemáticas. Originais. Sinceras. De poucas palavras; palavras mudas em razão da verdade devoradora.
- pois, então, "Narciso acha feio o que não é espelho". Agora com esse negócio de puto, ou putashop, fofocas por Sapp, virtualismo nas telas, dança na boquinha da garrafa, dentes amarrados com arame, bichos embelezando corpos e redes sociais, cada um se maqueia, cria a sua fachada, confeita a cara conforme os ingredientes que possui.
- É, compadre, até o pão nosso de todo dia foi alterado. Agora é tudo congelado. Arquivado. Um bolo de massa guardado no congelador para levar ao forno amanhã. Comemos o que nos dão.
- valha-me Deus, onde nós vamos parar!
- ah, seo Dermeval, se a gente não der sinal, aí é que a locomotiva da doidice, não para mesmo.
- verdade, Ditinha! Huuum, proseamos demais e passamos mais uma estação.
- qual, qual compadre!
- estação Israel.
- Viche, minha Nossa Senhora: viemos parar aqui ...?
- parar não; estamos em movimento. A locomotiva do progresso, ordem, justiça, igualdade e fraternidade não pode parar.
- quais são próximas estações?
- estação Faixa de Gaza...; vou colocar os óculos. Estação Hamas. Estação Resbolah...; Nietayniaru e por elas segue a viagem.
- é cada diabo de nome tem esse lugar, que dá arrepio. Uuuui!
- num sabe: aqui é o corredor da guerra.
- Deus nos livre desse corredor. Se isso é corredor, dispenso a ida à cozinha. Janelas e portas, já...; parar aqui, nem pensar seo Dermeval! Deixa do jeito que tá, que tá bão. E pare um pouco de ser linguarudo...; ponha otimismo em suas palavras e tudo vai dar certo!
- Buuum! Buuum!
- Sem dúvida, Ditinha. Não só vai dar certo, como teremos explosões de otimismo fresquinhos. Saíram do forno, quase agora. Não tem nada de ontem; em alusão à fala dos antigos: ontem foram outras bombas.
- entendi. Outras 500 bombas, né seo Dermeval!
- Uuui, como antigo, tenho horror ao moderno!
Se amar, colher flores e odiar, é só iniciar, então trabalhemos para uma coisa ou outra, ou ambas:
Pelo visto, o Apocalipse bíblico inspirou Nietzsche a escrever o niilismo; pois na peleja (guerra) estabelecida entre os adeptos do diabo e os poucos defensores do dono do céu, os indiferentes colhem flores.
E o mais sublime: nem se decepcionam com as flores que emolduram os vossos quadros. O que diferencia uma flor de outra, é a cor, a adaptação ao ambiente, o formato geométrico, o número de pétalas, enfim, a espécie é o que diferencia uma flor de outra; porém, flores são flores em qualquer lugar; exceto flores de plástico, lógico! No entanto, alguém disse que "os defuntos recebem mais flores que os vivos, porque o remorso supera, é mais forte que a gratidão".
Deveras, fala-se muito, é muita fofoca virtual - em mesma proporção, presencial - otimismo demasiado, diplomacia aos montes, para pouca ação e resultado prático. A saber, sem a operosidade das mãos, movimentos das pernas e parecer favorável por parte da mente, as sementes não serão fecundadas pela ação da água, em conjunto com a luz solar e a fertilidade da terra.
A Natureza dá início aos grandes amores, mas só o trabalho em conjunto os termina. Huuum, ledo engano. Para o bem da verdade e em total quietude, a Natureza planta amor, para o homem colher os estrondos e tragédias do desamor. As bombas falam mais alto do que as flores. E diante do silêncio, omissão e indiferença, sobressai quem berra, quem vocifera primeiro.
E ninguém sofre - morrer, então? - por isso; no máximo tem um efêmero mal-estar que não dura mais que poucas horas, oxalá, alguns minutos.