Discípulos de Cristo
Charlles Nunes
No Natal do ano passado, minha esposa e eu participamos pela primeira vez das reuniões aqui na capela de Lauro de Freitas. Naquele dia, o Bispo Abreu fez um discurso e falou sobre o que nosso Salvador enfrentou no Jardim do Getsêmani – e que todos nós deveríamos conhecer por nós mesmos o que se passou nesse jardim. Naquele momento, eu senti o desejo de fazer parte dessa ala.
Conviver com pessoas que estão buscando seguir Jesus Cristo aumenta nossa fé. E essa fé aos poucos vai aumentando nosso comprometimento.
Hoje, eu gostaria de falar sobre alguns seguidores de Jesus Cristo que eu conheci, e o quanto a influência deles me inspira a seguir ao Salvador também.
Mesmo sem ser pessoas perfeitas, o que eles fizeram e fazem tem um impacto sobre minhas próprias decisões. Ao observar como eles traduzem em ações os ensinamentos de Cristo, fica mais fácil seguir a Cristo também.
Essas pessoas vivem três princípios básicos que nós podemos viver também:
Princípio 1: Um discípulo de Cristo estuda o evangelho e o pratica de acordo com os ditames da sua própria consciência. Ele não está preocupado com a opinião pública, nem com os modismos da época.
Quando se deparam com a pergunta “O que Jesus Cristo faria nessa situação?”, eles encontram resposta no que sabem a respeito Dele. Quando entram em ação, eles passam a sentir e pensar de forma mais semelhante ao Salvador.
Esse processo vai tornando o seguidor mais parecido com o Mestre – e dura por toda a vida. Ao estudar e praticar, um discípulo de Jesus Cristo segue passo a passo no conhecimento da verdade – e vai se tornando mais semelhante a Ele.
124 anos antes de Cristo nascer, um rei aqui das Américas – chamado Benjamin – fez um discurso sobre Jesus Cristo, no mesmo dia em que aclamou seu filho como o novo rei. Esse discurso se encontra nos capítulos 2 a 4 de Mosias.
Ao concluir suas palavras, ele fez uma pesquisa entre o povo, para saber como eles haviam recebido a mensagem. As pessoas acreditaram tanto nas palavras dele, que quiseram fazer um convênio com Deus de que seguiriam os ensinamentos de Jesus Cristo. Nos versículos 6 a 8 do capítulo 5, lemos:
6 Ora, estas eram as palavras que o rei Benjamim esperava deles; e, portanto, lhes disse: Dissestes as palavras que eu desejava; e o convênio que fizestes é um convênio justo.
7 E agora, por causa do convênio que fizestes, sereis chamados progênie de Cristo, filhos e filhas dele, porque eis que neste dia ele vos gerou espiritualmente; pois dizeis que vosso coração se transformou pela fé em seu nome; portanto, nascestes dele e vos tornastes seus filhos e suas filhas.
8 E sob esse nome vós sois libertados e não há qualquer outro nome por meio do qual podeis ser libertados. Não há qualquer outro nome pelo qual seja concedida a salvação; quisera, portanto, que tomásseis sobre vós o nome de Cristo, todos vós que haveis feito convênio com Deus de serdes obedientes até o fim de vossa vida.
Nos versículos 12 e 13, ele continua:
12 Digo-vos: Quisera que vos lembrásseis de conservar sempre o nome escrito em vosso coração, para que não vos encontreis à mão esquerda de Deus, mas para que ouçais e conheçais a voz pela qual sereis chamados e também o nome pelo qual ele vos chamará.
13 Pois como conhece um homem o mestre a quem não serviu e que lhe é estranho e que está longe dos pensamentos e desígnios de seu coração?
Entre os anos de 1979 e 1982 eu convivi de perto com uma pessoa que me mostrou isso na prática. Meu pai tinha 44 anos quando decidiu que seguiria a Jesus Cristo. Eu tinha 9 anos quando fui ao batismo dele, numa igreja cristã da nossa cidade.
Ele viveu 3 anos buscando praticar o evangelho da melhor forma que ele entendia. Quando ele percebeu algumas contradições entre a igreja que ele se tornou membro e o que ele estudava na Bíblia, ele mudou de igreja. Quando ele percebeu o mesmo na segunda igreja, ele decidiu parar de frequentar qualquer igreja, e ficou estudando a Bíblia em casa mesmo e buscando praticar o que ele entendia.
Mas enquanto ele ainda frequentava aquela primeira igreja, ele recebeu o convite pra fazer as pregações na noite de quinta-feira. Me lembro de uma dessas noites em que ele estava lá pregando, e toda a congregação tinha só quatro pessoas: minha mãe, com minha irmãzinha no colo, meu irmão e eu. Numa dessas quintas-feiras, entrou um homem bêbado, se sentou em um dos bancos e dormiu na igreja.
Aquele homem bêbado voltou. Eu não sei quantas vezes ele voltou, mas foi o suficiente pra ele mudar a vida dele também e viver muitos anos como fiel seguidor de Jesus Cristo. Como eu sei disso? Ele se tornou um grande amigo da nossa família.
Estudando a Bíblia, meu pai descobriu que devia jejuar. E quando ele jejuava, de acordo com o entendimento dele, ele não comia, não bebia e não falava. Quando a gente batia na porta do quarto, ele respondia escrevendo numa folha de papel.
Ele descobriu também que devia começar a armazenar alimentos, e eu me lembro muito bem que ele começou a guardar feijão e arroz numa lata de 20 litros, dessas de margarina.
Um dia, ele comprou um plástico preto enorme – desses que a gente usa pra forrar o chão na pintura. Eu perguntei o motivo, e ele disse:
- Quando eu for batizar alguém, nós vamos precisar trocar a roupa na beirada do rio. Com esse plástico eu vou fazer um trocador.
Eu pensei: “Meu pai é doido mesmo. Ele acha que vai batizar alguém.”
Nessa época, meu pai trabalhava num açougue de um supermercado. E ele falava com todo mundo sobre Jesus Cristo.
Certa noite, ele chegou em casa acompanhado por outro homem. Me lembro como se fosse hoje, a forma como ele nos apresentou:
- Esse aí é o Fernando. Ele vai se batizar hoje.
Lá se foram os dois, buscar um rio, levando o plástico preto. E eu fiquei pensando na fé do meu pai.
Princípio 2: Um discípulo de Cristo serve as pessoas ao seu redor, e encontra formas para que as pessoas sejam servidas através de outras.
Domingo passado, eu me sentei na fileira do meio. Em poucos minutos, veio um dos conselheiros do bispo e me disse: “Irmão, o bispo pediu que você se sentasse ao lado daquele homem que está na fileira do canto. Você pode se sentar com ele?”
Eu fui pra fileira do canto, conversei com aquele homem, pegamos o contato um do outro, e no domingo à tarde estávamos trocando altas mensagens de WhatsApp.
Ele agradeceu pelo livro que enviei pra ele, e após ler 50 páginas e enviar para alguns amigos, comentou: “Os vínculos que construímos aqui são o nosso maior tesouro.” E compartilhou comigo várias ideias e experiências que ele teve buscando servir o próximo.
Viu como uma simples observação de um seguidor de Jesus Cristo – no caso, o bispo – pode desencadear uma série de coisas boas?
Outro que compartilha essa visão é o meu irmão. Foi ele quem nos trouxe aqui no dia de Natal. Nós estávamos na casa dele, e iríamos ficar lá por 10 dias, e retornar pra Angra dos Reis-RJ no dia 28 de dezembro. Na véspera de Natal, sábado, todo mundo já deitado, ele perguntou:
“Vocês vão na igreja amanhã?”
“Não”, respondi. A gente vai embora na quarta-feira mesmo.
Eu não queria vir pra igreja, conhecer várias pessoas e ir embora, com saudade de mais gente. E não queria ficar contando que a gente estava só de passagem, etc.
Meu irmão não desistiu:
- Bora lá, eu levo vocês.
Meu irmão foi batizado no mesmo dia que eu, em 1982. Ele serviu por muitos anos na igreja, foi inclusive líder em várias organizações e presidiu um ramo. Como ele não estava vindo há algum tempo, eu perguntei:
- Você vai levar a gente e voltar, ou vai ficar com a gente lá?
- Vou ficar com vocês.
- Então, a gente vai.
E assim, viemos e começamos essa nova fase na nossa vida.
Mas o cuidado dele não ficou por aí. Alguns dias depois, ele viajou, e nós fomos passear com o Irmão Vicente – o patriarca – lá no Pelourinho. Passando pelo estádio Arena Fonte Nova, eu senti o desejo de assistir um jogo ali.
Quando meu irmão ficou sabendo, mesmo estando lá em Volta Redonda, no Rio, ele contatou uma amiga dele e me avisou:
- Charlles, a Carol é fã do Bahia. Ele vai acompanhar vocês aí.
Quando eu convidei o Irmão Vicente pra assistir o jogo com a gente, ele perguntou:
“Você conhece essa moça?”
Eu respondi:
“Nunca vi mais gorda. Mas se o meu irmão indicou, o senhor pode ficar tranquilo. O senhor indicaria alguém para acompanhar seu irmão, que não fosse de confiança?”
E assim fomos nós, a Martha (minha esposa), o Irmão Vicente, a Carol, o Lincoln (amigo da Carol) e eu, sentir fortes emoções enquanto torcíamos pelo Bahia. Felizmente, ele conquistou mais um triunfo – e nós ficamos pulando feito loucos lá na arquibancada. Foi uma experiência inesquecível.
Princípio 3: Um discípulo de Cristo convida outros a virem a Cristo também.
Quando eu era rapaz, a gente andava por uns 40 minutos pra chegar à igreja. Nesse caminho, às vezes a gente parava numa padaria. Fiz amizade com uma atendente, ela perguntou sobre a igreja, e acabou conhecendo as missionárias.
Algumas semanas depois, eu chego em casa à noite e encontro um bilhete:
“Irmão Charlles, a – nome da moça – vai ser batizada amanhã. Você pode fazer o batismo?”
Eu pensei por um momento: “Quem será essa moça?”
“Ah, a moça da padaria!”
Irmãos, depois que eu passei o nome e o endereço pras sísteres, eu não fiz quase nada. Não acompanhei nem uma palestra. Na verdade, quase esqueci o nome da moça. E mesmo assim, ela estava me convidando pra fazer o batismo dela.
Existem muitas maneiras de convidar outros a virem a Cristo. Pra mim, a mais fácil é ser amigo de alguém.
Espero que todos nós possamos ter a coragem e a fé do meu pai, o desejo de servir e a atenção do bispo e do meu irmão, e a alegria da Carol.
Oro para que todos sejamos melhores seguidores de Jesus Cristo. Um dia de cada vez. O pouco que fizermos, somado, pode significar muito para alguém.
Em nome de Jesus Cristo. Amém.
Lauro de Freitas-BA, 22 de janeiro de 2023.