#OO2, @DERKOSMOPOLIT: Amor, amor, que doença infecciosa.

ATO ÚNICO

(Entra Sirius acompanhado de seu Corvo,

e Cássio logo atrás do amigo)

SIRIUS:

Aos amigos, digo que é doença — por que é — caso contrário não faria do homem um reles escravo. Mas o que posso eu saber sobre amor, não é mesmo? Que propriedade me cabe a palavra, e o estudo, que outros tão mais interessantes — e notórios — do que eu já não tenham se debruçado sobre e com grande afinco desvendado parte (ou por inteiro, se assim a sorte calhou de os brindar) desse grande mistério. Seria um conceito tão ordinário, se não fosse por suas proezas ora maldosas, ora complacentes. Mamãe dizia: “o amor é um manto que protege, mas que também pode sufocar se não souber usá-lo adequadamente", criticava as paixões porque eram passageiras, faísca de ligeiro flamejar. E que só o “amor” sabia reluzir… e advertia com grande precaução: “tenhas cuidado com o brilho, pois tudo que é áureo demais tende a embaçar a visão e guiar à cegueira”. Mnmm… Disse à ela que eram muitas regras e tudo que aspira burocracia demais instiga ao asco antes mesmo que se dê ao trabalho. O homem só possui um desejo em sua vida: a plenitude; coisa que acredita encontrar na “felicidade” — outra doença. Parece-me que uma é a comorbidade da outra, ou símile ideia… Mas vou lhe dizer, Cássio — até mesmo eu, que não anseio mais do que posso ter — já desejei ser escravo de minhas paixões, um desses séquitos leais e incorruptos do amor. Uma dessas estirpes que se satisfaz com migalhas e por menos, muito menos que merecem, dão-se por completo quando recebem apenas metade da metade. Tudo pelo conforto… se há felicidade, não sei, mas que há uma espécie de conforto, é certo que há… Ter quem tome por si decisões e aponte escolhas — supostamente — corretas é mais convidativo do que a possibilidade de ter de analisá-las, uma por uma, e ainda se deparar com uma possível decepção no final deste exercício tão maçante. Agora… (À parte para o Corvo) as asas da liberdade tremem mais do que qualquer ensejo atrativo de se curvar à servidão de outrem. Pois, Cássio, não levaria tal pensamento a uma distância tão longa se tu mesmo não tivesses me dado o necessário para o arranjo deste meu próprio patíbulo. Posso resumir todo esse raciocínio (mui incompleto) em uma única sentença:

A vida que se vive — quando vive — é só uma; o que vier disso é lucro, independente do gasto que disponha!

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Ato inspirado pela composição: In the Mood for Love - Shigeru Umebayashi (8).

BARDUS
Enviado por BARDUS em 02/03/2021
Reeditado em 02/03/2021
Código do texto: T7196990
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