Aconteceu quase Agora!

Se o leitor entender que o que irá ler é conto e não um discurso, fatalmente o título que lhe virá à mente, é: "Fazendinha de Geladeira".

Aliás, minha esposa montou a nossa fazendinha inspirada nas que vi enfeitando as portas de geladeiras dos amigos e familiares que residem na cidade.

Provavelmente, devido o excesso de chuva desses últimos dias, o sapo Zelão sumiu do lago, a galinha Maricota abandonou os 14 pintinhos recém saídos dos ovos, - coitada, reclamava, ou melhor, cacarejava que ser mãe é penoso, demais - o galo Esporudo, não amanheceu no poleiro. Nem a vaca Mujica, o garrote Rompedor e o jegue Juca Salino, estão no estábulo. A alfafa, a ração, o feno e a água estão como coloquei, ontem. Não beberam uma gota...

Antes de ir à Delegacia, vou fazer as devidas diligências nos arredores da casa e caso não descubra o paradeiro dos meus animais de estimação, vou abrir um BO.

Comentando com minha esposa, que por sinal está de camisola esparramada na cama até essa hora, - domingo é dia de descanso merecido e abençoado por Deus - Ela disse-me que por falta de gás, também por causa da quebra dos suportes de nivelamento e a borracha de vedação que está toda desgastada, doamos a geladeira Consul de 240l; que dizíamos ser a "Nossa pequena Fazendinha".

Que o novo proprietário faça bom uso do eletrodoméstico e trate bem os bichinhos; que por longos anos, habitou o fundo de nossa cozinha, dando-nos alegria e satisfação.

Iluminados pela penumbra bruxuleante do candeeiro, difícil dizer quantas foram as noites que Eu, minha esposa e Eles fizemos planos de papel, jamais exequíveis. As coisas são assim mesmo; e com o tempo, todos nós aprendemos que nem tudo que queremos e planejamos, será concretizado.

Certa ocasião, em uma dessas sessões divagadoras, discorremos que pessoas tem por dever e obrigação, saber que uma fortaleza de portas e janelas abertas, inicia com sonhos arrojados, projetados sobre a fragilidade de dunas esvoaçantes, para posteriormente, depois de muito labor, implantá-los e estruturá-los sobre a solidez de rochas brutas. Pois, sonhos consolidados sobre rochas brutas, além de demandar tempo e jamais desmoronar, despertam profunda felicidade e insano contentamento, no construtor.

Ledo engano sonhar adormecido em solo pantanoso movediço. Quem assim sonha, desperta com lama até as orelhas. Palavra de matuto que não se perde em mata densa; bem como não tem medo de uivos de lobos em noites de lua cheia. Podes crer!

Bem, para finalizar, semana que vem Eu e minha esposa iremos à cidade, tomar a primeira dose da vacina contra o Corona; passamos das 80 primavera; e se estamos respirando, é porque passamos verões, outonos e invernos, também.

Estou ouvindo dizer que o carnval desse ano será o Carnaval dos Mortos. Destarte, contrário dos otimistas e festeiros que não pensam na possibilidade niilista, neste ano faremos carnaval no céu com a Bíblia nas mãos, rezando o terço e alegremente, sambaremos sem exposição de bunda lelê, sem carros alegóricos, sem bitucas de cigarro do capeta entre os dedos, sem injeção de dinheiro público; e logicamente, sob silêncio profundo da plateia nas arquibancadas sofás / espreguiçadeiras.

Com ou sem máscara, o Corona, através de sua ilustre filha mais velha, Covid-19, expulsou até o diabo de sua festa mais bem quista pelos humanos, na Terra.

Se para os viajantes, há malas que vão para Belém, para os crentes em Deus, há males que vêm para o bem.

Também ouvir pela boca dos fofoqueiros assistenciados pelo Auxílio Emergencial, que o governo não tem vacina o suficiente para todo mundo. Seja como for, farei minha parte, pois prevenção, pomada canela de velho, mingau de fubá enriquecido com maizena e aveia e chá de boldo - com a doação da geladeira, foi-se a generosa touça da erva que plantamos perto do estábulo - fazem bem para os fígados de bêbados e não menos, para as pessoas novas e idosas.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 14/02/2021
Reeditado em 14/02/2021
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