(in) Sanidade Cani(natali)no
Sagrada, bendita, revolucionária pandemia que com o advento universal gerador de protocolo e decreto político, (destaque para a obrigatoriedade de máscara) nunca me senti tão cão, livre cão sem dono, como agora. Para se ter uma ideia, a ramela dos olhos deu lugar ao brilho, a sarna sumiu. Secou sem precisar de usar óleo de carro queimado. Minha pelagem é outra: linda, fina e escorrida, cheirosa; parecida bumbum de nenê.
O problema é tirar o adereço que tapa o focinho e as narinas para fuçar o lixo nos restaurantes; fato que escancara a minha deficiência bucal. Por mim ficaria como ela posta 24h por dia.
Na vida, o que entendem como imposição ao que é feio, pode ser elevação e melhoria de autoestima; pelo menos foi o que me aconteceu. Sinceramente, sou outro...; e estou curtindo demais a pandemia, principalmente por causa do citado acima. Aliás, seguindo o proposto em decreto direito, de maneira correta, por que não pandemia para sempre?! Afinal, se somos unidos familiarmente, economicamente, politicamente, antropofagicamente, socialmente pelo canibalismo reinante entre nós, poderemos ser amigos honestos e verdadeiros, isolados para sempre.
Penso que aprenderíamos outra linguagem, falaríamos outro idioma em vez do idioma ecumênico que reune hipocrisia e falsidade sentadas à mesma mesa, dormindo abraçadas e fazendo bobagem à mesma cama, debaixo do mesmo teto.
"Feliz natal e um ano vindouro com muito dinheiro no bolso, cheio de paz, amor, saúde e prosperidade".
Repetindo os mesmos erros, derrapando nas mesmas deficiências e almejando o que Ele não oferece, o homem permanece iludindo a sí; pois embora tenha passados 2020 dC, esse Salomão supremo que habita a Terra ainda não conseguiu discernir e transformar subjetividade, em atos práticos, em ações objetivas e solidárias, preferindo o individualismo de receber em vez de doar, em vez de dividir equitativamente.
Restando a Ele, desculpar-se e pedir perdão; porém, desculpar-se e pedir perdão não é tão importante, quanto não repetir os erros cometidos outrora.