CANÇÕES ANÔNIMAS

Quando eu era criança eu sonhava que seria um cantor. Via os artistas que faziam sucesso no Brasil e acreditava que se eu me esforçasse bastante, um dia seria como eles, viajaria o mundo e comoveria multidões com minhas letras e canções. Acima de qualquer brilho que eu via naquelas estrelas, as letras das músicas era o que eu mais admirava, as histórias que eram contadas e repetidas incessantemente nas rádios e através das pessoas. Que maneira magnífica de se contar uma história através de canções, porque quando tocam, no sentido sensível da palavra, elas ficam gravadas no coração e desenvolvem um significado próprio e único, associando-se a histórias, hábitos e sentimentos de cada pessoa.

Eu fui crescendo, e descobri depois de algumas tentativas que tocar violão não era para mim, tentei aprender com meu irmão, com meu sobrinho, mas nunca saiu nem um DÓ, me convenci de que talvez não tenha a inteligência musical, mas eu ainda tinha a minha voz! Nada disso! Aos 18 anos, foi revelado a mim por meio de um comentário muito maldoso no Youtube, que eu "não cantava nada!" Naquele comentário, daquela pessoa que nem me conhecia, morreu um sonho. Deletei o vídeo imediatamente, mas no fundo fiquei agradecido, por já na minha primeira tentativa de emplacar minha carreira musical, ter uma verdade atirada na minha cara daquela forma. "Foi um comentário de apenas uma pessoa", você pode me dizer. Mas doeu tanto que eu não sabia se aguentaria um segundo, então decidi por fim ali mesmo aquele empreendimento ousado. Embora não tenha parado de cantar, porque amo fazer isso, seja no chuveiro ou em um karaokê entre amigos, só deixei de fazê-lo com a pretensiosa finalidade de entreter uma plateia.

Mas acontece que Gardner tinha razão quando afirmou que cada ser humano tem uma combinação única de inteligência. E embora eu não tenha a bendita inteligência musical, eu tenho outros dons, como o de escrever. Escrevo desde muito pequeno, mas só a partir da oitava série descobri o meu verdadeiro potencial, ao participar e vencer concursos de redação, ser publicado quase que semanalmente no jornal da escola, e a ser elogiado na internet. O jogo virou! E virou mesmo, descobri através da poesia como fazer músicas, posso não saber cantá-las de forma afinada, posso não saber tirá-las de um instrumento, mas eu sou responsável por ajudá-las a nascer, eu imprimo meus sentimentos em suas letras e, embora eu não saiba se posso chamá-las de música -não entendo nada disso mesmo-, as considero como as minhas canções anônimas, quem sabe um dia, as ouço de verdade, mais do que dentro da minha cabeça e do meu coração. Um sonho renasceu.

Thiago W Flores
Enviado por Thiago W Flores em 08/05/2020
Reeditado em 08/05/2020
Código do texto: T6941404
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