Alcantilado Encantado

Resido onde a passarada gorjeia,

As serpentes vigiam o terreiro,

Os grilos ululam nas folhagens,

Os esquilos não param,

As minhocas não são iscas,

Os sapos martelam no brejo,

As vacas alimentam os filhotes,

O garrote manso espia,

O regato chia,

A onça bebe a água pura e cristalina,

O carro de boi é o meio de transporte,

As trilhas são as rodovias,

A lua cheia dorme espraiada no lago,

As estrelas são testemunhas,

As aves de rapina cumprem com o seu papel,

As fumacinhas nas chaminés é convite para o café,

As mesas fartas possuem quatro pés,

O soberano gogó do Galo carijó canta alto na aurora,

Os polinizadores semeiam e fabricam mel,

As Rosas e rosam desabrocham,

No peito do violeiro, a viola chora;

E geograficamente,

Nada chega.

E por nada chegar,

Nada acontece.

Aqui, nesse Desfiladeiro Alcantilado

O feio é belo,

E o belo espanta-se com o sonoro discurso:

"Sai pra lá bicho lindo.

Não apareça nesse território Encantado.

Tudo natural e nada superficial, aqui não tem a cultura de selfies e poetas declamando poesias prontas de Google.

Vai importunar os inteligentes em outros ecossistemas afamados"!

Como excelente visionário que é,

Tomou fôlego, molhou as palavras com um gole de água e prosseguiu o discurso:

"A falta de empatia, a soberba, o descaso com o que é coletivo, a ganância e a falta de solidariedade fazem empréstimos e não doações voluntárias; e uma hora ou outra, a fatura com juros e correções monetárias batem à porta de credores e endividados. Por sorte, as cobranças estão chegando em doses homeopáticas, porque quando resolverem liberá-las em doses cavalares, a diarreia é certa Chico Timbau, capoeirista, tocador de berimbau!"

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 25/03/2020
Reeditado em 27/03/2020
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