Discurso de Posse na Academia Sorocabana de Letras - ASL (12/07/2018)

- Ilustríssimo Presidente da Academia Sorocabana de Letras, jornalista e historiador Geraldo Bonadio!

- Ilustríssimos membros da ASL e, a partir de agora, confrades e confreiras!

- Ilustríssimas autoridades presentes!

- Queridos familiares, parentes e amigos!

O planeta Terra é um arquipélago!

Um conjunto de ilhas humanas dispostas em grupos que têm escrito a História da Humanidade. História essa que faz parte do Grande Livro da Vida Terrena.

Um Livro repleto de sons e imagens. Um Livro que nos faz rir, mas também chorar! Que nos leva ao desespero, mas que nos faz sonhar! Um livro de páginas já escritas, mas com páginas ainda em branco, para uma nova história contar.

E os historiadores somos nós!

E são partes do Arquipélago Terreno, esta Biblioteca, representada pelo ilustríssimo homem e Acadêmico, José Rubens Incao, a Academia Sorocabana de Letras, representada por seu presidente, Geraldo Bonadio, e outras congêneres, como a Academia Votorantinense de Letras, Artes e História, aqui representada por sua presidenta, Miriam Correa Jáki, a Academia Itapetiningana de Letras, representada por seu presidente Jorge Paunovic, bem como o Grupo Coesão Poética de Sorocaba, representada por seu presidente, Gonçalves Viana.

Ao contrário, porém, da ilha descrita pela Geografia, como porção de terra não tão extensa quanto um continente e cercada por água de todos os lados, estas ilhas também são cingidas, são tocadas, são permeadas por uma água; uma água também batismal, porém, de natureza etérea. É a Água da Sensibilidade!

Nessas águas, laboram homens e mulheres que, em vez de cumular tesouros que a traça e a ferrugem consomem e os ladrões roubam, cumulam os tesouros da inteligência lúcida, do raciocínio claro, do comportamento ético e do altíssimo sentimento da transcendência da vida material efêmera, que, por esta razão, deve ser vivenciada e compartilhada diariamente, pois que, aqueles que têm dentro de si um Oceano de Sensibilidade, representam o Estandarte à frente da Batalha dos Ideais Humanos.

São homens e mulheres fecundados por palavras e ideias que, por meio delas, difundem o cabedal de conhecimentos e sentimentos acumulados pela História. E assim o fazem em prosa e em versos.

Escritores e poetas são seres humanos que não derramam sangue, pela força bruta, mas lágrimas, pela despertar da consciência e da sensibilidade!

Que felicidade, pois, é esta que nos invade o corpo e nos inebria a alma, ao estar aqui hoje, nesta Biblioteca, para ser oficialmente empossado na Academia da Terra Rasgada, a Academia Sorocabana de Letras!

E, ao tomar posse, ocupando a Cadeira n.º 4, que tem por Patrono o escritor e historiador Francisco Adolfo de Varnhagen, agradecemos, com primazia, ao Supremo Criador, ao Grande Arquiteto do Universo, que nos concedeu a vida terrena, como primícias da Vida Universal.

A Ele, endereçamos nosso humilde poema de agradecimento, A oração do poeta:

O cotidiano nosso de cada dia

nos dai hoje, Senhor,

Para que as Letras se difundam

por todos os cantos

E, por um encanto,

cada canto seja um hino

de liberdade e de sonhos!

Agradecemos, também, ao presidente da Academia Sorocabana de Letras, o amigo Geraldo Bonadio, pelo convite que nos fez e aos demais membros da Academia, que referendaram o convite, bem como à amiga Myrna Eli Atalla Senise da Silva, pela emocionante saudação que nos fez.

Agradecemos aos familiares, parentes e amigos que se dispuseram a deixar seus lares para que esta posse não fosse de uma única pessoa, mas o congraçamento de almas afins.

E o mesmo congraçamento é o que desejamos e pretendemos promover, irmanando a ASL com a AVLAH, da qual também somos membro, pois Sorocaba e Votorantim, assim como Itapetininga e outras cidades sedes de Academias similares representam o esteio cultural de um país expropriado, educacional e culturalmente.

E, neste momento, conclamamos às nossas Academias, e a todas, espalhadas por estes Brasis, para que, cada vez mais, as Academia de Letras e as de Letras e Artes, sejam de Letras e Artes vivas!

Que deixemos o descanso de nossas Cadeiras Acadêmicas, que são de madeira dura, para que não acomodemos nossos corpos, e que saiamos a semear as Letras e as Artes para aqueles que têm sede e fome de conhecimento, e mesmo para aqueles para os quais, necessário se faz despertar-lhes essa sede e essa fome.

Esta é a nossa altíssima missão terrena, pois que em nossas almas e em nossas mentes foi insuflado o dom das Letras e das Artes e a nós cabe levá-las como os ventos, que levam as nuvens de chuva para as terras áridas!

É um tempo, portanto, de união! União de almas e de ideais! E, acima de tudo, de trabalho árduo, contínuo e sob as intempéries do tempo e da vida!

Francisco Adolfo de Varnhagen

Passaremos, agora, para finalizar a nossa fala, a saudar o nosso patrono, Francisco Adolfo de Varnhagen, nascido em São João de Ipanema, SP, a 17 de fevereiro de 1816.

Filho da portuguesa Maria Flávia de Sá Magalhães e de Friedrich Ludwig Wilhelm Varnhagen, um engenheiro militar alemão contratado pela Coroa para construir os altos fornos da Real Fábrica de Ferro de Ipanema, na região de Sorocaba, na então Capitania de São Paulo, estudou no Real Colégio da Luz em Lisboa, de 1825 a 1832 e iniciou a carreira militar à época das Guerras Liberais, como voluntário nas tropas de D. Pedro IV de Portugal que lutavam contra D. Miguel I de Portugal. e, a seguir, ingressou na Academia de Marinha, cujo curso frequentou em 1832 e 1833.

Tenente de artilharia do exército português aperfeiçoou-se em assuntos de natureza militar e de engenharia. Publicou em 1838 um ensaio intitulado Notícia do Brasil, seu primeiro trabalho de história, entre 1835 e 1838.

Suas pesquisas na matéria levam-no a localizar o túmulo de Pedro Álvares Cabral na Igreja da Graça, em Santarém. Foi admitido como sócio-correspondente na Academia de Ciências de Lisboa. Formou-se como engenheiro militar em 1839, na Real Academia de Fortificação, Artilharia e Desenho. Colaborou em O Panorama, dirigido pelo grande historiador português Alexandre Herculano. Divulgou, fruto das primeiras notáveis pesquisas sobre a época do descobrimento do Brasil, o Diário de Navegação de Pero Lopes de Sousa.

Retornou ao Brasil em 1840, entrando para o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 1841, exercendo o cargo de primeiro-secretário. Em 1844 obteve a nacionalidade brasileira, podendo ser admitido na carreira diplomática.

Serviu na legação de Lisboa e na de Madrid, obtendo reconhecimento como historiador com a publicação da História Geral do Brasil em dois volumes (1854-1857). Foi destacado para o Paraguai (1858), tendo servido ainda na Venezuela, em Nova Granada (atual Colômbia), no Equador, no Chile, no Peru e nos Países Baixos.

Já licenciado do exército português tornou-se sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (18 de julho de 1840).

Nomeado adido à legação do Brasil em Lisboa, em 1841, foi incumbido de pesquisar documentos sobre a História e a Legislação referentes ao nosso país.

Nesse mesmo ano passou a integrar o Imperial Corpo de Engenheiros do exército brasileiro, do qual se desligou três anos depois. Voltou à carreira de diplomata e, em 1854, conseguiu editar a História Geral do Brasil, sem indicação explícita de autoria, assinada apenas “por um sócio do Instituto Histórico do Brasil, natural de Sorocaba.”

Seguiu-se uma série de missões diplomáticas em vários países da América do Sul e, em 1868, em Viena. Representa o Brasil, em 1872 no Congresso Estatístico de São Petersburgo. Em 1877 percorre, no Brasil, o interior das províncias de São Paulo, Goiás e Bahia.

É agraciado pelo governo imperial com os títulos de Barão e Visconde de Porto Seguro (1874). No Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro ocupou os cargos de 1º Secretário e de Diretor da Revista da entidade.

A extensa e bem documentada obra de Varnhagen inclui, entre os mais notáveis de seus escritos, O descobrimento do Brasil, O Caramuru perante a história, Tratado descritivo do Brasil em 1587, História completa das lutas holandesas no Brasil, Épicos brasileiros, Florilégio da poesia brasileira, Amador Bueno, drama histórico, Cancioneiro, Literatura dos livros de cavalaria.

Em 1877 empreendeu viagem ao interior de Goiás com objetivo de explorar a região entre as lagoas Formosa, Feia e Mestre d'Armas próximas da atual cidade de Formosa, Goiás.

Varnhagen defendia a interiorização da capital do Brasil e havia realizado estudos cartográficos acerca do Planalto Central.

Encerrou a sua carreira como representante diplomático em Viena, na Áustria, onde faleceu em 1878, aos 62 anos.

Dele escreveu Oliveira Lima, membro-fundador da Academia Brasileira de Letras: “Francisco Adolfo de Varnhagen foi por certo o mais notório e o mais merecedor dos estudiosos do passado brasileiro; foi um ardente investigador, um infatigável ressuscitador de crônicas esquecidas nas bibliotecas e de documentos enterrados nos arquivos, um valioso corretor de falsidades e ilustrado conhecedor de fatos.

O traço dominante da individualidade de Varnhagen é a paixão da investigação histórica à qual subordinou todas as suas manifestações de escritor.”

Fontes:

Academia Brasileira de Letras. http://www.academia.org.br/academicos/francisco-adolfo-de-varnhagen/biografia >. Acesso em: 10/07/2017.

Wikipédia: a enciclopédia livre. https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Adolfo_de_Varnhagen >. Acesso em: 10/07/2017.