O POVO DA ETERNA NOITE NEGRA
Mestres da renascença
Iluminem estas trevas
Que resistem trezentos anos,
Desde que a vela foi acesa
Pelos poetas, pintores, filósofos iluministas.
A bússola trouxe seus descendentes até aqui
Vieram ainda a luz elétrica e esta máquina na qual escrevo,
Vós que inspiraram a Revolução Francesa
Os movimentos de independência na America do Norte,
E os Inconfidentes Mineiros, que foram os únicos a morrer em vão.
Aqui não há contrato social nem déspotas esclarecidos,
Somos ainda o povo da eterna noite negra
Sem identidade, sem soberania, sem educação,
Nossas crianças são tabulas rasas sem ranhuras nem rasuras
Aceitamos nossa minoridade pois não entramos na modernidade,
Logo estamos exilados do diálogo global em torno da pós-modernidade.
Aqui tudo é assim, fizemos a reengenharia antes da engenharia,
Jamais fizemos revolução ou reforma que seja,
conformismo acima de qualquer idealismo,
Neoliberais sim, contando que o Estado proteja nosso capital.
Aprendemos mestres, sobre a democracia e os valores humanistas
Só confundimos Antropocentismo como conceito singular,
“o homem que eu – e apenas eu – sou, é o centro do universo”,
O Século das Luzes atravessou o mundo sem aqui se deter
Porque somos o país do futuro, até lá, até este futuro
Que ninguém consegue prever, seguimos orgulhosos de nossa escuridão.
Os governantes de hoje, os legisladores, os pedagogos, os banqueiros
Neste futuro inatingível dirão aos homens que hoje são crianças
Que não há luz no fim do túnel, eles eram a esperança
Tiveram uma educação diferenciada, e esta é toda a confusão,
Diferentes por conceitos matemáticos, estatísticos, cronológicos
Iguais na liberdade aviltada, na perda da cidadania, nos sonhos tolhidos.
Pais de hoje, seus filhos são estes homens sem futuro,
Avós, o que puderam fazer por seus filhos, estes não podem fazer por seus netos,
Nubentes, grávidos e afins, os filhos que vierem a gerar já nascerão sem perspectivas,
É por todas as crianças que pedimos mobilização, ação, contestação,
Vamos juntos fazer democracia!
"Não se revolta um povo inteiro a não ser que a opressão seja geral." John Locke
* _________________*________________*____________________*
Este texto é um manifesto contra a Resolução CNE/CNB 01/2010, e Deliberação do CCE/SP 73/08, que instituem datas de "corte etário" para as matrículas na educação infantil e no ensino fudamental.
Isto fere não apenas os príncipios constitucionais dos cidadãos, fere a condição humana ao retardar a conquista de seu maior atributo, o saber.