A MÁQUINA DO TEMPO 

          Escrito para o evento em comemoração 
          ao Dia Mundial do Meio Ambiente, em 2002 
          30 anos da Conferência de Estocolmo 
          Praça de Itaboraí



Boa noite!
Hoje eu gostaria de convidar vocês
pra uma viagem que ainda não é possível
à luz da ciência ...
Mas quem é que precisa de ciência
pra viajar no tempo?

Vamos voltar ao passado.

O ano é 1972:
o mundo vive um tempo conturbado,
em que tudo parece difícil e sem saída.
Guerra do Vietnã, conflitos no Oriente Médio,
ditaduras militares em toda a América Latina,
guerra fria – ou seja, um verdadeiro barril de pólvora.

Em 1972 o mundo viveu o mais cruel
atentado terrorista antes de Osama Bin Laden,
em plena Olimpíada de Munique.
Foi o ano de “O poderoso chefão”,
ano em que Emerson Fittipaldi deu ao Brasil
o seu primeiro título na Fórmula 1.

Foi o ano em que a TV a cores chegou ao Brasil
e que a nave Pioneer 10 foi lançada, levando
ao espaço o grito de existência da Terra ...

Também em 1972 aconteceu o famoso escândalo
de Watergate, que derrubou Nixon da presidência
dos Estados Unidos.
Enquanto isso, o Brasil era governado por um militar
linha dura, ou melhor, linha duríssima!
chamado Emílio Garrastazu Médice.

Mas aí você deve estar pensando
– O que é que esse cara tá fazendo lá em 1972?
– O que é que eu tenho a ver com isso?

É que no dia 5 de junho, naquele mesmo ano
de 1972, aconteceu o primeiro grande encontro
Mundial para tratar de uma questão fundamental
para a sobrevivência do mundo: o MEIO AMBIENTE.

A Conferência de Estocolmo deu um sacode
no planeta e gritou pros governantes
– O mundo está morrendo!

A máquina do tempo, então, resolve voltar pro futuro
e a gente vai parar em 1982 ...
Dez anos depois daquela conferência,
ninguém tava mais nem aí pro tal meio ambiente.
Nas rádios, o que tocava era “Thriller”, de Michael Jackson,
e no cinema baixava o ET de Speilberg.

Israel, pra variar, comprava briga com os muçulmanos,
e invadia o Líbano.
A Argentina, pra variar, comprava briga com
o pessoal errado, e levava uma coça da Inglaterra
na Guerra das Malvinas.
– Quase mil mortos, por porcaria nenhuma!

O Brasil era governado por outro militar,
linha dura mas nem tanto, chamado
João Batista de Oliveira Figueiredo.
Aqui, só se falava em Copa do Mundo.
Zico, Sócrates, Falcão e companhia jogaram bonito,
mas não levaram o título,
levaram foi um baile da Itália no Estádio Sarriá.

Só que enquanto ninguém se tocava,
o governo do Canadá deu o alerta
e denunciou ao mundo os efeitos da
Chuva Ácida.

Mas aí você vai perguntar:
– Será que esse cara endoidou
e resolveu dar aula de história agora?
– Que troço é esse de chuva ácida?

É a aplicação prática da Lei de Lavoisier, cara!
Na natureza, nada se perde, nada se cria,
tudo se transforma ...
O dióxido de enxofre e o óxido de nitrogênio,
liberados na queima de combustíveis,
vão pro ar e se transformam em
ácido sulfúrico e nítrico, e viram chuva,
que contamina tudo e todos.

Bom, depois de dar uma olhadinha a gente
ainda vai viajar mais um pouco, até 1992.

A Olimpíada daquele ano foi em Barcelona,
mas foi o Brasil que virou o centro do mundo.
Ecologia virou palavra da moda.
A ECO-92, no Rio, reuniu 178 chefes de estado
na 2ª Conferência da ONU para o Meio Ambiente
20 anos depois daquele encontro em Estocolmo.
35 mil visitantes, centenas de ONGs,
gente pra todo lado ...

Tudo muito bom, tudo legal,
mas na hora de assinar os compromissos,
teve muita gente roendo a corda.

Vale lembrar que foi nesse ano
que os Sérvios massacraram
populações civis na Iugoslávia dividida.

Clinton, o do Charuto, foi eleito
presidente dos Estados Unidos.

A filha da novelista Glória Perez morria
assassinada por um monstro chamado
Guilherme de Pádua e sua mulher Paula.
A pena para ele foi de 19 anos de prisão,
mas o cara já está na rua, e de ficha limpa.

Outro que também já tá na rua
– Aliás, nunca esteve atrás das grades –
e de ficha limpa e tudo,
é o tal Fernando Afonso Colllor de Mello,
que era presidente desta terra em 1992.
Mas os 111 presos fuzilados no Carandiru,
em São Paulo, não vão ter outra chance.

Acreditem se quiser, foi em 1992 que,
depois de 359 anos de ignorância,
o Vaticano reconheceu que Galileu estava certo
– A terra gira mesmo em torno do Sol ...

O negócio é que, mesmo com os caras
aceitando e assinando a tal AGENDA 21,
dois temas foram abandonados por
Estados Unidos e alguns de seus aliados,
na ECO-92 – o Clima e a Biodiversidade.
De nada adianta fazer farol se os grandes
responsáveis pelos crimes ambientais
não botarem o deles na reta!

Como o combustível dessa máquina do tempo
é reciclável e biodegradável, a gente volta
aqui pra 2002, e pousa em plena Praça de Itaboraí
e você vai perguntar:
– De que valeu essa viagem insólita?

Eu não sou o H. G. Wells, nem o Marty McFly
do filme “De volta para o futuro”,
mas vi um mundo que ameaçou mudar,
mas que ficou só na ameaça.

A lista de problemas ambientais por aí é grande:
Efeito estufa,
Alimentos transgênicos,
Emissão de gases poluentes,
Agrotóxicos,
Extinção de animais,
Caça e pesca predatórias,
Desmatamento,
Queimadas,
Testes nucleares,
e eu ia ficar falando aqui até 2012,
que a lista não iria acabar.

Pra que a agressão ao meio ambiente acabe,
pra que o homem consiga viver em harmonia
com a natureza,
basta cada um de nós refletir sobre
qual é o mundo que quer ver
quando a máquina do tempo chegar
em 2032, em 2072, em 2112,
sabe-se lá quando!

Hoje a gente ainda vai ouvir música,
ver teatro, ouvir poesia,
e passar uma noite inteira de diversão e arte,
mas aí! – começa a plantar agora
o seu futuro e o futuro do planeta,
porque o tempo passa muito rápido,
e quem deixa pra fazer amanhã,
pode acabar não fazendo nunca!