Da certeza da dúvida

O velho lobo não consegue acalmar o seu espírito.

O velho lobo range seus dentes involuntariamente.

O velho lobo não consegue mais ficar escondido sob a capa de cordeiro.

O velho lobo está uivando.

Está gritando.

E está perdido em um emaranhado de confusos sentidos e sentimentos.

O velho lobo está uivando em dúvida.

Esse sangue fervilhando sob a pele o está deixando louco.

O velho lobo: um carnívoro voraz mordiscando mato para saciar-se.

Totalmente em afronta a si mesmo.

Mais que tudo o desejo do velho lobo é se vir livre. É se vir liberto para correr. E morder. E voltar a ser o velho lobo.

Faminto e voraz.

Sozinho e confuso.

Manso e assassino.

Mas quer, sobretudo, deixar de estar eivado de dúvidas e ausente de respostas ou lugar para procurá-las.

A questão é muito mais profunda do que aparentemente as palavras puderam expressar.

Trata-se de dúvida elementar; de viver. De ser. De saber.

Um velho lobo não pode esquecer quem é.

O velho lobo não pode perder a voracidade no olhar. Nem olvidar do tremor que apregoa sua compleição física.

E do que realmente se trata?

Trata-se do uso de máscaras morais.

De fantasias sociais.

De pura representação.

De representação social para vossa sociedade.

Enquanto o lobo lá fora se prepara para me atacar - porque é o que tem de fazer - eu continuo aqui, ante a iminência suprema da morte. E estou assim, prestes a morrer e não sei o que fiz.

Não sei o que deveria ter feito. Ou o que eu deveria ter sido. Ou o que eu deveria ter dito.