(in)Sensibilidade, Governados e Governantes

Alma sensível, corpo hombril.

Sentimentos aflorados, aparência indócil.

Inteligência farta, ideias retrógradas.

Quando há ideias.

Quando há sentimentos.

Quando há o existir.

Qual o fiel retrato de um poeta?

Quê se esconde atrás daquele rosto cerrado?

E o que houve com aquele com o rosto serrado?

Encerram-se as finais razões.

Opera-se o feito e o mesmo é colocado à submissão do entendimento do Julgador. Que não analisa nem delineia o rosto do acusado. Que não prejulga as visíveis tatuagens e o ar de culpado. E com seu instrumento em punho, numa visão idealizada e antiga (retrógrada), dá, ali, à mão, com sua caneta, naquele momento, a sentença contra aquele que cometeu o ato vil em face de Vossa Majestade, o Estado.

E o Estado, preocupado em manter seu sistema de contas positivo, com deficiência financeira zero, apenas visa, no processo da condenação do Acusado, as custas a que fará jus. E o Condenado, condenado que já era, arca com o que não tem para satisfazer os desejos, vontades e privilégios de Vossa Majestade. As vulgas "obrigações".

Porque se um dia fui obrigado a me esconder em minha casa alegando ter pago os impostos do inverno e, do lado de fora o Cobrador fazia desdém da minha alegação, se aquilo era exemplo do poder do Estado para com o súdito, hoje, nos dias hodiernos parece ainda pior. Hoje o Estado se defende e cresce erigido por suas Leis e suas letais, instantâneas e multi simultâneas medidas provisórias. E seus fartos panos quentes.

Ao menos nos tempos de império havia pão e circo. Para assistir. Porque hoje eu sou parte do espetáculo. Sou muito mais circo do que pão. E não estou lá para assistir, mas para fazer parte do show de alguém. Para alguém. E cada vez com menos pão.

Indissociado de preceitos religiosos quaisquer, posso afirmar que o pão não virá dos céus.

É.

E aliado a isso tudo esperamos pelo Profeta que virá nos salvar. Ou nos redimir.

E nem adianta alegar inocência, porque todos deverão ser redimidos. Digo mais: todos serão redimidos. A presunção será de culpabilidade!

Aos que nada acusarem contra si, o Estado, digo, o Profeta conseguirá uma declaração de culpa. Ora, como não conseguir? A redenção deve de ser plena. A redenção há de ser plena.

Enquanto o Profeta não vem, respiramos aliviados. A não ser que venha para salvar.

Como aqueles Profetas que, no ápice de suas loucuras, admirados por toda aquela gente ignorante a aguardar suas palavras, acreditavam que ouviam o Senhor indicando o caminho. Talvez o estivessem. Em cena, como sempre, reis, súditos, platéia, chefe, palhaços..

Nos tempos atuais a realidade complicaria os planos dos Profetas. Primeiro, porque não se teria para onde ir. Já que, parece que estamos na década de oitenta, onde se correr o bicho pega e se ficar o bicho come. Segundo, porque a globalização e a falta de cultura corrente entre os súditos implicaria em dissidentes, em questionadores, em opinadores. E graças à violência que nos embanha de sangue no jornal do meio-dia, da noite, da madrugada, etc., os dissidentes em breve estariam assassinando o Profeta. Ou cobrando sua parte. Seus privilégios.

Porque o bom de ser Rei ou Julgador ou Profeta, é que se pode dar ordens. E nada como dar ordens. Ainda mais diante do cenário típico: poder, platéia e submissão.

Nada mais justo, por assim dizer, que o súdito busque seu lugar ao sol.

O problema é que ele aprendeu errado. Aprendeu da forma como aqui é ensinada pelos nossos Profetas.

Pelo Senado.

Pelo Supremo Tribunal.

Pelo vizinho.

Pelo ídolo.

Jeronimo Terra Rolim
Enviado por Jeronimo Terra Rolim em 22/09/2009
Reeditado em 02/04/2010
Código do texto: T1825144