MANIFESTO-ME
Manifesto-me, pelo suor que escorre em minha testa, e não me traz um sorriso nos dias de Holerites.
Manifesto-me, pela ressaca da crise que não sacia meus olhos com boas novas.
Manifesto-me, contra a cultura televisiva, suas falas e b u n d as decoradas pela decadência da arte.
Manifesto-me, por acordar e não poder espreguiçar meus braços para uma nova luta contra a irracionalidade dos estigmas governamentais.
Manifesto-me pelo nordeste, contra os coronéis do agreste e suas botinas que não calçaram os sertanejos após suas vitórias.
Manifesto-me, por e-mails de correntes que alimentam minhas esperanças e torram o saco dos meus quinze amigos que ficam a questionar minha saúde mental.
Manifesto-me, pelos horizontes de montanhas que nunca irei observar, pelos mares que jamais ousarei sonhar em navegar.
Manifesto-me, pelas cachaças e petiscos que meu bolso não vão poder provar, e pela carne de segunda que meu estômago necessita para respirar.
Manifesto-me, pela loucura, pelas dores, pelos caminhos e contra os sopapos que levei na cara.
Manifesto-me por não ter sido um astro do rock, por não ter nascido em 1948 e por não ter tocado no festival de Woodstock.
Manifesto-me, contra meu eu, contra mim mesmo e contra minha cara que necessita se mostrar idiota diante do espelho.