O PADRE BALOEIRO
O padre baloeiro, que, em 2008, decolou de Santa Catarina para o mundo, alçado por coloridos balões de festa enchidos com gás hélio, queria chamar atenção das pessoas para um movimento de apoio a caminhoneiros. E chamou. Embora a torcida para que fosse resgatado vivo, a aventura deu zebra e o nosso bom pastor, definitivamente, acabou Lost in Space. Lamentável, mas consta que o padre De Carli não estava adequadamente preparado para vencer tão exótico desafio terreno. Terreno, aéreo ou marítimo, sei lá. O importante da história é que ele tentou inovar, como um Ícaro reencarnado, num voo impossível para um grande ideal. Ao menos para ele, tratava-se de coisa relevantíssima, hoje muito pouco lembrada. Mas era um padre, poderão dizer: não tinha esposa e filhos e nem as responsabilidades de ganhar a vida como a maioria dos mortais. Não importa, era um filho de Deus, um de seus mais próximos neste momento. Ao morrer, partiu feliz com seus balões coloridos. Não era o final que planejara, com certeza, mas foi aquele que lhe reservou o destino. Detalhes técnicos agora pouco importam, assim como as intenções. É a vida. Teve gente que achou graça, teve quem criticasse, quem lamentasse, aplaudisse, lastimasse. Houve de tudo um pouco nesse episódio surpreendente e tragicômico. Afinal, depois de tantos brutais e infaustos acontecimentos, parece que muita gente estava e ainda está pronta para gargalhar por qualquer fato diferente na mídia, independentemente de possível drama nele contido. O padre baloeiro virou assunto na rede, assim como na vida real, mexendo com o imaginário e nossa capacidade invulgar de fazer humor. A missão do padre não era na estrada, conforme supunha ao apoiar caminhoneiros, mas em alturas que nem milhares de balões mágicos sustentariam o peso da matéria. Propaganda excessivamente criativa e aventura radical podem ser um tiro no pé. Enfim, cada macaco no seu galho, de preferência naqueles não tão elevados.