Janelas
Antigamente, nossos pais, avós, bisavós carregavam uma cultura de consumo completamente inversa ao que hoje somos induzidos a ter. As roupas, por exemplo, acompanhavam as pessoas por quase toda a vida. Rasgou? Furou? Remenda-se, costura-se e a vida segue. Hoje, joga-se pela janela.
Era comum as pessoas terem apenas um relógio por toda vida. Havia uma cumplicidade com os objetos pessoais. Uma amizade, um parentesco, enfim uma integração por toda a eternidade.
Hoje, tudo enjoa, cansa, então, joga pela janela.
O amendoim, a bala,a lata de cerveja. Até o leite tinha garrafa de vidro! O carro passa apressado pela rua congestionada e joga-se tudo pela janela. Emporcalhando-se as ruas.
Os relacionamentos eram eternos e sagrados. Amizades, casamentos, filhos, pais, vizinhos...
Quem hoje saberia costurar, remendar, puxar uma cadeira no fim da tarde para uma conversa fiada com o vizinho? Quem vai jogar bola com o filho? Quem? Quem vai ficar a vida toda com aquela namorada de infância? Chato demais.
Este texto pode estar muito saudosista, apesar de não ser a minha intenção. É claro que evoluímos, não dá para viver a vida toda com uma pessoa que a gente não goste mais. Nem dá para usar a mesma calça por vinte anos. Mas entendo que a velocidade consumista vem nos obrigando a situações efêmeras sem muito envolvimento emocional, sem espírito, sem alma. Será que temos sido muito pragmáticos?
Os velhos estão abandonados pelos filhos e pela sociedade. Os planos de saúde os expulsam sem clemência. Alguns políticos querem acabar com a aposentadoria ou reduzi-la a pó com o argumento do déficit da previdência. Então, o jeito é morrer cedo? Não tem lugar para velho.
Jogue-os pela janela!
Tem muita gente que cria um bicho de estimação e quando estes ficam velhos ou doentes ou estão incomodando por algum motivo, os abandonam pelas ruas e praças. Jogam pela janela!
Ou seja, eu temo que a relação que estamos tendo com os objetos, cada vez mais descartáveis, estão se alastrando e contaminado nossas relações pessoais. Se a criança chora, irrita, não obedece.
Enfim se não presta mais, não funciona, saiu de moda: joga pela janela!