ESSA MALVADA ESTÁ FAZENDO CERA
Naquela hora em que meu amor
foi embora e de propósito,
deixou a porta entre-aberta,
pensei comigo: essa malvada
está fazendo cera.
Fiz que nada vi.
Deixei correrem as horas.
Mas, pelo visto, elas estavam
de muleta e nada acontecia.
A porta ficou assim, um convite
a pernilongos ávidos de sangue.
De vez em quando eu dava uma olhada.
Imaginava que um ventinho a fechasse.
Ou que um furacão a prensasse no batente.
Mas não, nada acontecia.
Comecei a pensar que tinha sido pra valer.
Ou que aquilo fosse mesmo uma provocação.
Passada a eternidade de alguns minutos,
investi contra ela, imaginando fechá-la
sem olhar lá fora.
De soslaio, vejo meu amor chorando
no corredor.