CRÔNICA DO DESAMOR

Meu ex-amor, você foi a flor que perfumou

meus sentimentos mais perfeitos e claros.

Hoje,é a grande inspiração que sinto

quando quero agredir o meu lado melhor.

Tenho vontade de gritar de raiva, mas

quero falar segredos de liquidificador.

Quando o amor morre e despedaça o coração,

não há cola que dê jeito. Nem transplante.

E agora vou deixar você de fora.

Não há porque insistir em ser romântico

se tenho outras coisas mais urgentes a pensar.

Resolvi falar da vida que vive aí fora.

Agora abri minha cabeça e falo de coisas mais importantes.

Falo do aquecimento da Terra, dos venenos na comida,

das mazelas do governo, das tristezas do nosso povo,

dos sem-cartão, dos remédios falsificados, dos filhos abandonados.

Falo também dos sem-Deus.

Falo do lixo espacial e do lixo que entope bueiros.

E não falo de você meu ex-amor!

Como se o nosso ex-amor pudesse ter durado

mais que algumas poucas linhas!

Sinto que escrevi para cegos sem olhos nem dedos

e sussurrei para surdos, meu ex-amor.

No entanto, enquanto o mundo acaba,

gente sem voz continua cantando o amor.

Eu queria tanto acreditar que o amor

de hoje será o amor de sempre!

Confesso, queria muito. Porque o de ontem

não é mais o de hoje.

Meu ex-amor, amor de verdade não existe mais.

Não sofra. Amores de mentirinha existem aos milhões.

Melhor que fingir que sofre tanto

é sonhar que o mundo inteiro vai amar você!