VOLTA MENINO!

Para quê ter tantos chapéus se não usá-los? As cores da vida na face rosada de um rosto qualquer perdido em multidões basta para acender o fogo da existência. Melar as mãos de chocolate, ter amigos imaginários, sorrir e sorrir e morrer de rir mais um pouco por nada, dormir no chão frio, no carpete, em qualquer lugar, se apaixonar por estranhos, esperar na janela e observar o nada, tomar chuva, gostar disso! Andar descalços na terra, na grama, rolar na grama, sentir o gosto das coisas como se fosse a primeira vez a experimentar, mesmo que seja pela milésima vez a comer. Sentir o toque e o carinho como se não fossemos tocados a milhões de anos, mas sentir e eternizar o momento. Amar de verdade, chorar de verdade, sentir aperto no coração, desapertar em seguida por um bicho que passa na frente e pegamos no colo, sim, não ter medo dos bichos. Ouvir musica e entender cada nota. Sentir dentro do coração a vida que temos, a oportunidade do sentir! Jogue um balde de água ou coloque um corpo sem vida na chuva, o que acontece? Nada. Apenas um corpo molhado. Mas vivos, assim, com dentes e boca para cantar, morder, sorrir, beijar, somos tudo o que podemos ter. braços para abraçar, corpo para correr, dormir, enroscar, quebrar e consertar, o sopro inexplicável da vida venta dentro de cada artéria, veia, célula de nosso belo corpo. Hoje quis escrever sobre a vida, sobre a infância, meu Deus, tenho 31, e me tornei um pedaço cinza de ser humano. Serio, trabalhador, cheio, lotado, transbordado de responsabilidades que me consomem e me adoecem dia a dia, e incrível, não percebo os dias passarem, cada nascer do sol, cada poente, a lua, observar as estrelas horas tentando achar discos voadores, ver discos voadores e contar a todos. O que me aconteceu, em qual esquina perdi a mágica de não ligar para o resto do mundo e viver plenamente cada milésimo de segundo do acordar ao dormir, sentir as cores, o mundo, sentir o cheiro das coisas de forma intensa. Sonhar, ter bons sonhos, voar pelo mundo e ver o inimaginável agora possível. Olho no espelho e sei que tem lá dentro de meus olhos aquela criança que ama o mundo, que acorda com preguiça mas levanta para sentir o orvalho, o tempo frio, que sai para ver se os morangos amadureceram para admirar e depois fazer uma boa vitamina de morangos com leite. Ouvir e cantar saltimbancos, chorar com musicas tristes e pular na cama. Quem disse, onde foi que escreveram que ao amadurecer, ficar adultos, tínhamos que perder o brilho da infância, da vida. Jogamos um jogo que decidimos perder a cada dia e momento que passa, entregamos as cartas e as que não colocamos na mesa simplesmente as marcamos para qualquer jogo comum. A alegria da vida, o entusiasmo de existir e descobrir ainda vive encubado dentro de cada um de nós, o poder de apaixonar e mudar tudo, criar mundos, universos e destinos diferentes a cada instante. Saber de tudo e ter resposta a qualquer pergunta, mesmo sem saber, o resultado, tanto faz, vou me sentir feliz com qualquer resposta mesmo! Quero virar do avesso minha alma e buscar a criança que existe ali. Quero viver ao contrario o restante do tempo que resta. Plantas, animais, coisas simples, amar, sentir, gostar de ser e saber que o resto não importa, estando aqui, assim, sentindo o mundo integrado em nós como uma só vida, vai bastar, a mágica da vida, o encanto de saber que somos eternos enquanto duramos. Duramos o necessário para compreender que o ponto de partida é o mesmo que chegamos, um ciclo, um circulo, que ainda sim, fazemos a horrenda façanha de transformá-lo em uma reta com destino certo. Quem sabe? Que bom que ninguém tem esta resposta, pois vou sorrir e admirar a vida enquanto meu bambolê girar em minha cintura, enquanto tiver o jogo, e claro, jogar para empatar a partida, sem se quer partir a vida, ou partir para algum lugar, vou permanecer aqui, vivo, dentro de mim, no mundo, no céu e na existência, intensamente proporcional ao quanto amo estar nesta passagem impar e abençoada chamada vida. Olhe em meus olhos, e sim, venha buscar a criança dentro de mim, mergulhando em minha alma, com tua inocência e juventude e buscar o menino que estava ali, escondidinho, sem se perder, na brincadeira do esconde esconde, esperando alguem achar!