VIDA QUE PASSA
Vida que vem, vida que vai, vida que chega, vida que se esvai. Do nascer ao morrer o tempo é tão curto que mau percebemos que em dois ou três passos percorremos todo o caminho em soluço só. Acompanhados ou sozinhos, assim fazemos, quase que sempre da mesma forma, se algo muda, são pequenas imperceptíveis alterações de destino causados por meros acasos em nossas vidas. É necessário parar o tempo em bons momentos para poder dar uma esticada para quatro ou cinco passos. Seguimos quase que a maioria das vezes sozinhos, mesmo quando achamos estar acompanhados. As magoas da alma choram sozinhas em um canto qualquer de nosso coração. Seguimos assim, sempre. Coragem, força, aos olhos mais perspicazes, o punho fechado pronto a luta, e cerrando os dedos de forma a segurar a areia desta ampulheta de forma rija e então represar todas as coisas boas, como quem deixa a sobremesa para o final que chega rapidamente. Tão longo é o caminho, tantas línguas a se aprender, a impressão que tenho é que sempre chegamos ao final sem se quer sermos entendidos, torre de Babel estas vidas que não se falam. Difícil é se fazer entender, aos prantos, a serenidade, a mímica, o desenho, o explicar, o grito, o brado, nada basta, mesmo assim somos nós mesmo ali sozinhos e caminhando. Penso, penso e penso, tento fazer-me compreender, e olhe, como fracasso nesta missão impossível. Meu coração se cala não por falta de palavras, mas por falta de saber expressar das mais variadas formas sua forma inexplicável de viver e existir. Hoje me vejo em um espelho distorcido, que não mostra mais o que tenho certeza que ainda esta ali, vivo e latente. Me aprisiono diariamente em frases prontas e refeitas para me enfeitiçar. Tenho grades imaginarias ao meu redor prendendo tudo aquilo que não convém gritar ao universo. Suplico aos deuses, ao mundo, ao homem, que dor é esta que não se cura, que difícil é caminhar tanto em tão pouco tempo e em um respirar, pronto, tudo se acaba, se vai, e claro, aos que não foram cautelosos, posso dizer a maioria, o pensamento final é sempre o mesmo, poderia então ter feito mais, fazer diferente, mudar tudo, plenos covardes inertes e sustentáveis por algo que criamos, uma vida em moldes prontos. Seria de se prever tudo isso, a moda passa, muda, as roupas deixam de cair bem com o passar das culturas, por que não haveria de ser diferente a todos nós, usando velhos moldes de vida de pessoas e pessoas que absolutamente não sabem o que foram e quem somos nós. Como podemos jogar fora a luz esplendorosa da vida em troca de quireras mesquinhas feitas de ouro de tolo. Tantos pares impares, tantos cálculos sem resultado. Sim, é verdade, minha verdade que o que passa é passado, e nos trancafiamos em nós mesmos por medo de perceber que ainda havia tempo. Sonhamos e criamos mundos e universos libertos de tudo e todos, mas presos em um curto período de ser e estar. O assunto é muito complexo para tentar expor em apenas um pequeno texto expressivo. Baseio em mim meus comentários que tive uma vida agitada e atribulada, cheia de altos e baixos, confusa e de uma eterna espera por um final perfeito, aconselho aos navegantes que não mais esperem, que busquem de peito aberto seja qual for o velocino de ouro. Enfrentei dragões, combates, fui julgado, abandonado, reconhecido, aplaudido, venerado, vivi a gloria e a sarjeta, esperei, esperei, esperei e esqueci que o tempo passava, dei meus três passos, agora, vejo com cuidado os poucos próximos, na verdade, penso e quero muito, saltar a frente, e seja como for, do jeito que for, estar sempre, a frente de meu próprio tempo.