BEM NA HORA AGÁ

A gente estudava em escola pública.

Apesar de mais pobre, era uma delícia não ter que pagar.

E o ensino, de verdade, era melhor.

Os professores, todos dedicados, só queriam o nosso bem.

O de matemática queria que a gente bem se ferrasse.

Suas equações eram insolúveis.

Não havia x que desse jeito. Mas, a gente sobrevivia entre risos e lágrimas.

A professorinha de inglês, a gente só não deglutiu porque ela falou Help!

O de português, a gente cobriu de pó de arroz.

Um belo dia, resolvemos colocar uma bomba de São João

no banheiro das meninas, o que era algo de praxe, naqueles tempos.

Depois de muitos congressos, conluios e dissertações sem nexo,

preparamos o artefato.

Claro que não queríamos machucar ninguém,

só a imagem do diretor da escola.

À la Bin Laden, escolhemos um homem- bomba,

devidamente preparado para o evento.

E lá foi ele em direção aos sanitários femininos.

O diretor, desconfiado, barrou nosso homem-bomba.

-o que o senhor faz com esse pacote?

-eu, não faço nada.

-onde pensa que vai?

-eu ia levá-lo à sua sala, mas como vi que está aqui,

então tome, é seu.

-o quem tem aí?

-acho que uma bomba.

-então está bom...pode deixá-lo aí!

-vocês, jovens, acham que podem nos enganar.

-uma bomba? E como ela vai explodir?

-com bituca de cigarro.

-ah! Tá! Bituca de cigarro! Tá bom....e ela está acesa?

Bem na hora H, deu a maior chuva.

E a bomba não explodiu.

Sorte do diretor.

Ele não frequentava o banheiro feminino.

Bem, a gente achava que não!