EU E O PRESIDENTE
Então foi mais ou menos assim.
Eu tinha lá meus 22 anos e estava no último ano da faculdade.
Como já trabalhava e como todos, nunca me sentia feliz com o salário,
resolvi mandar um curriculum.
Tinha visto um anúncio no Estadão que se encaixava exatamente
no meu perfil. E mandei ver. Pretensões salariais: o dobro do que ganho.
É aquela estória: se pegar, pegou.
E pegou.
Aí me chamaram para a primeira entrevista.
Um teste aqui, outro acolá.
Entrevistas tantas que me senti muito importante pela primeira vez na vida. Não deu outra. Admitido com louvor.
Então, começou a tortura.
Refazer todos os manuais de instrução da empresa.
Meu Deus, pensei, o que será que é um banco por dentro?
Por fora é claro que a gente sabe.
Contabilidade? Fluxo de caixa? Circulares normativas?
Bem, aproveitando a deixa que o brasileiro é antes de tudo um forte,
consegui ir matando um leãozinho por dia.
Passado um tempo, promoção.
Promovido, eu? Não pode ser, o que foi que eu fiz?
E lá vou eu, com 23 anos, ser gerente de comunicação.
Aí é que a tortura apareceu de cara limpa.
Eu tinha que me reportar ao presidente da empresa.
Ele era inteligentemente cruel.
Tinha, pelo menos, 30 anos mais que eu,
portanto, uns 53.
E outros tantos milhões de reais (muitos) a mais que eu,
que não tinha nenhum.
Ele tinha diversas Mercedes.
Eu não tinha nenhum bem, a não ser minha esposa.
Quando a gente é recém-casado, é o maior bem que a gente tem.
Depois também, mas isso não faz parte desta crônica.
E vamos à luta.
Ele trabalhava no estilo Jânio Quadros.
Bilhetinhos pra todo lado. Sabia de tudo.
Era amigo do Rockfeller(acho que é assim que se escreve).
Soube que deu um balão no irmão, tomou parte da empresa do tal,
mas nunca se identificou como irmão.
Onde eu errei.
Ele tinha 3 filhos. Todos trabalhavam na mesma empresa (que era a dele).
Então, o garotão aqui, com 23 anos de idade, achava que era o todo poderoso e que podia fazer e desfazer.
Sabe o que houve?
Dancei bonito. Lindo....lindo...
Mas, se existe consolo, hoje eu tenho 60 anos.
Ele, 90. Continua muito rico apesar da idade.
Eu,....ah! Eu devo para o banco dele, apesar da idade
e escrevo crônicas.