GENTE DO SÍTIO FRUTUOSO BEZERROS PE. (MANÉ DE FRANQUILINO)

Desconheço as suas origens, sempre ouvi falar que tinnha um irmão que morava no município de Cumaru PE, porém não cheguei a conhecê-lo. Viveu solitário num minúsculo triângulo de terra que mal cabia a sua pequenina casa de taipa que ele mesmo construiu às margens da estrada que vai para Areias. O terreno foi cedido por Severino Fontoura que era proprietário do lugar e quando vendeu a propriedade a Nivaldo Rufino teve a preocupação de pedir para que ele não mexesse com o velho Mané, o que foi cumprido fielmente e fez com que ele terminasse seus dias sem se preocupar com moradia.

Figura de comportamento estranho, às vezes duvidoso, falava fino e tinha uns trejeitos suaves, um molejo que nos dias de hoje poderia até ser confundido com um homossexual. Naquela época ninguém nem ouvia falar nessas coisas. Em dias de carnaval, vestia-se com um vestido, se maquiava e “soltava a franga”, indo de casa em casa pedindo algum dinheiro e exibindo o lado feminino que existia dentro dele que só podia ser exibido livremente e sem censura naquela época do ano. Sobrevivia da ajuda da comunidade, porém gostava de trabalhar, tinha um roçadinho nas terras de Zé Rufino onde até hoje o lugar é conhecido como “O roçado de Mané de Franquilino”.

Mané mesmo com seu comportamento duvidoso em relação à sexualidade, vivia pregando aos quatro ventos que tinha duas namoradas, uma era Helena de Seu Augusto e a outra era Enedina de Chico Silvestre. Essa história nunca foi confirmada por nenhuma delas, mas para ele foi o suficiente para passar o resto da vida plantando sonhos e colhendo ilusões. Já velho, sem mulher e sem parentes contava com os cuidados de “Bila” (Severina de Francisca) uma vizinha generosa que lhe auxiliava quando estava doente e de todos da comunidade que indiferentes ao seu estilo de vida sempre lhe eram solidários.

Certo dia foi acometido por uma doença cardíaca que o deixou tão inchado que para ser socorrido foi preciso pedir emprestado o vestido de uma senhora bem gorda que residia na comunidade para que o vestissem (o vestido foi cedido por Terezinha esposa de Samuel da Mata ambos já falecidos). Depois que o vestiram surgiu comentários que ele teria dito que se morresse estaria feliz porque estava vestido do jeito que ele sempre quis.

Depois desse episódio ainda viveu por muito tempo.

Uma noite, o velho Mane, depois de ter palestrado até altas horas na casa de Dona Maria de Seu Augusto, foi para o seu humilde ranchinho sem saber que aquela seria a sua última noite. Deitou na sua cama de varas forrada apenas com uma esteira e ali dormiu para sempre. A solidão e a noite escura foram testemunhas da sua morte. Teve uma morte tão solitária quanto à vida que sempre viveu.

Alguns fatos curiosos surgiram no dia seguinte à sua morte: Heleno de Santino que todo dia entregava leite na casa de Mané, nesse dia bateu na porta e Mané não falou. Ele pensando que Mané tinha saido abriu a porta por fora, como já era de costume e colocou o leite em cima do fogão, aí notou que Mané ainda estava deitado. Chegou perto da cama, puxou o lençol e gritou: Acorda preguiçoso!!! Ao notar que ele estava morto saiu em desabalada carreira numa gritaria que dava medo, por muito tempo não passou sozinho onde morava o velho Mané. Outro fato curioso é quando chegaram com o caixão e foram colocar o corpo, Afonso de Luiz Rufino, muito curioso, ficou por perto atrapalhando o trabalho, nesse momento, o pé do defunto escapuliu batendo-lhe na cabeça, mesmo nesse momento inoportuno o episódio causou risos e comentários das pessoas que ali estavam presentes.

Essa é a história desse morador de Frutuoso que viveu num mundo de fantasias e ilusões, mas era querido por todos da comunidade onde viveu. A prova disso foi o seu sepultamento que reuniu uma multidão inesperada, sendo um dos maiores funerais da comunidade. Enedina, a sua tão sonhada namorada, compareceu no velório e sepultamento e ofertou uma coroa de flores num gesto de amizade e gratidão ao velho Mané.

Autor. Carlos Alberto de Oliveira Aires

Carpina PE. 24/11/2006

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Carlos Aires
Enviado por Carlos Aires em 01/03/2008
Reeditado em 18/05/2008
Código do texto: T882042
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