BORDÃO § BORDÕES

Na língua portuguesa, especialmente, os bordões e as frases feitas vêm adquirindo importância e espaço nos tempos novos de comunicação eletrônica e de massa. A televisão e a Internet fornecem material abundante para isto. Confesso que ainda curto uma literatura mais densa, com certa erudição não-pomposa. Afinal, simplificação fácil é tão ruim quanto o estilo rococó, gongórico. Mas o interessante é a força que certas palavras-chave, certas expressões linguísticas adquirem no quotidiano, na linguagem escrita ou, sobretudo, falada. Um bordão é como boa piada, não dá para explicar, revela-se por si próprio, impõe-se e encerra o papo. Certas expressões equivalem a uma conferência inteira, a um discurso ou a um bom livro, por mais besta que aparentem ser. É o paradoxo do humor a serviço da linguagem ou vice-versa, não sei. O bom comunicador, às vezes, consegue tudo dizer em quatro ou cinco palavras; ou melhor, nada dizer. Bah! E também é arte, acredito.O humor na televisão piorou muito e a graça do passado não tem o tempero de hoje. Fica, portanto, difícil o resgate histórico, mas coisas da Família Trapo, Viva o Gordo, Faça Humor não faça a Guerra, Chico Anísio Show, TV Pirata, Casseta e Planeta e outros tantos ainda exigem reverência e citação, tipo "Tira o tubo!", "Chose de Loque", "É mentira Terta?", "Vai pra casa, Padilha!" "Brasileiro é tão bonzinho", "Bota ponta, Telê!", "Chamou, chamou?", "Lá vai, lá vai, lá vai...lá vem, lá vem, lá vem" , do "Muy amigo", do personagem imortal Gardelon ou do Ney La Torraca repetindo o seu bordão surreal: "Barbosa". O humor é a literatura em estado definitivo, exuberante. O bordão está além da literatura, pois também é pura filosofia em gotas. Hoje, a comédia é quase toda por conta de alguns políticos: nem falo dos atos que cometem ou cometeram, mas das explicações e justificativas com que nos brindam. É aí que me refiro. Sou muito mais Golias, o Gordo, Chico, Rolando Lero, o Luís Fernando Guimarães ou a Fernanda Torres. A comédia política custa muito caro ao país.

José Pedro Mattos Conceição
Enviado por José Pedro Mattos Conceição em 27/02/2008
Reeditado em 06/03/2023
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