Filme da vida, do pó ao pó
Vou voar acima de meus sonhos, vou penetrar na virgindade de minha consciência. Vou estacar meus grampos no chão liso de minha memória bastarda e acampar em área aberta e descampada a espera das passagens certas e incertas de minha vida. Vou estender a tela negra de minha vida no tripé querer, ser e poder, o querer segurou o mastro alto e reto, o ser curvou ao chão a estrutura e por fim o poder fixou ao chão em meio termo levando a frente a pendenga do cai e não cai da tela negra por ser a mistura de tantas cores que no escuro se confundem com gatos pardos e ariscos, afinal, uma vida inteira ali passaria para meu próprio deleite. Choraria, riria, ficaria tenso, suspeitaria, vibraria e no fim, como um filme mau acabado ainda sim iria esperar melhor final para historia sendo trágica ou feliz. Nada me faria satisfeito. Bem, continuei acampado esperando que minha vida passasse na tela bamba ali no nada...fazia um vento que só vendo, não tinha pó, não tinha nada, mas tinha vento, vento amigo, inimigo, companheiro, que jamais havia me abandonado, em sossego e silencio sempre cantava baixinho nos meus ouvidos o perfume donde gostaria estar, ou os segredos que ninguém mais poderia saber ou entender alem é claro de seu confidente. Mas fiquei ali, observando a grande tela negra, sentindo o vento, e perfurando meus pensamento com britadeira de forte porte, não seria fácil quebras a virgindade de uma consciência impura e marcada pelo mundo, que guardou o ovulo infecundo de uma pureza qualquer dentro de crostas e crostas formadas a sua volta tornando-a perola de tolos com vamos lá, teu valor reconhecido e firmado nas bolsas e pregões de pensamento e vida espalhadas por nosso existir. O filme rodou e para minha surpresa o filme era mudo e em preto em branco, com legendas intercaladas e sem sentido algum, não entendia as passagens ali demonstradas, o circo de minha vida, algo misto de Chaplin, Três Patetas e faroeste americano. Tudo batido em alta pressão e jogado a deriva em um rolo filmado por quem? Entendi onde errava no entender, deixei que minha vida fosse filmada por todos, compondo historias as quais não eram meu ponto de vista, ali, perdido e estacado, acampado em lisas e limpas memórias entendia o porque do meu não saber, de estar confuso e perdido em minha própria pupila. Servo de minha angustia, libertava então a fúria que penetraria a perola dos tolos fecundando o antes infecundavel, gerando dentro do fundo de um interior qualquer de meus pensamentos ramificações brotadas de terra infértil e que estenderam por todos meus vasos fincando em cada qual flores de perfume impar, sândalos, âmbares, patchouli, entre outras essências da terra que firmariam ali um novo acordo entre eu e minha existência. Penetrei onde acreditei haver pureza e descobri que a parte limpa estava fora e espalhada por toda a minha alma. Queimei de dentro a fora, flamei em chamas de dor, amor e querer. Ali naquele campo descampado levantei acampamento e cravei minhas estacas em meu próprio peito também marcando o passo dentro de meu coração ainda desabitado. Fiz do querer minha seta reta e certeira, do ser o alvo e do poder a alma fundida a seta e ao alvo. A tela agora e ainda negra, agora sépia e incolor sem nenhuma maior explicação se dissolvia dentro de todas as passagens ainda rodando em um rolo que conforme rodava nada mais sobrava, ao pó voltou junto com todos os infortunados e inconstantes conceitos aos quais até ali tinha me feito migrar de parte em parte juntando um quebra cabeça insolúvel. Dono de minha seca, chuva ou primavera, carregaria minhas flores e perfumes por onde quer que meus pés descalços sentissem o tocar de Gaia e sua alma dolorida nas suas extremidades. Gravaria o final mais feliz de todas as vidas juntas, seria o meu final, de minha maneira, da forma e opinião a qual decidira, coerente ou não, seria intitulada, gravada, roteirizada e criticada por olhos ávidos e mente aberta e agora estuprada a fortes estocadas portadoras de clareza e objetividade única, despindo toda insensatez e desprezo alheio, deixando dentro do eu, o resto miúdo e rasteiro de homem que mesmo assim se faria caldo grosso e sustentável, se misturando ao chão do campo que então receberia novas mentes acampadas em busca de penetrar memórias sem procedência e sustentando o soprar do vento que jamais se cala a quem quer que queira ouvi-lo.