Você apostaria?
Joguei. Apostei. Coloquei meus valores na mesa, minha historia, meus sonhos, tudo o que sonhava. Imaginei dobrar minhas conquistas intelectuais, meu conhecimento, minha paz, minha vida. Perdi. a maldita roleta parou na casa ao lado, me aprisionando no vermelho 31. Minhas fichas acabaram, e como agora só se usa cartões, não ligaria mais a ninguém. Sei que fui imprudente e não tive responsabilidade, mas o pouco que tinha não me agradava, e entre isso ou nada, sim, eu hoje preferiria isso. Mas como saber, como pensar em algo que ainda não formulamos, melhor, como formular algo se ao menos aprendemos as contas básicas de nossas vidas? Como então. Pessoas vivem sem pressa, andando, comendo, trepando, gerando prole, trabalhando por miséria e aprendendo quase nada, em resumo vivem e morrem sem nada perceber, sem entender, sem valorizar o porque da existência, a maravilha de ver o céu azul, o mar, a poesia da vida, da natureza, o amor que dói, que marca, a prosa sem fim de uma amizade verdadeira, pessoas parideiras e pedreiras, arquitetas de muros secos, sem pinturas, sem pichações, sem quebras, lisos e altos, tampam o nada de uma sociedade sem princípios ou motivações, dentro da engrenagem estúpida de girar para fazer força motriz para engrenar, nada. Não, meu isso era muito maior que tudo, e mesmo assim o apostei. Acredito sim que a vida não seja em vão, sei e sinto que vivo para um propósito, meu, seu, de alguém, mas sei que existe, se não, ao contrario, não buscaria tanto respostas para algo assim, que sei bem , é verdade, ainda busco a pergunta.
Mas que seja, cada historia de vida, cada passo, cada escolha, amor, desafio, ar puro, cheiro de mato molhado, terra molhada em dia de chuva, cores, beija flores, o mistério das formas iguais a tudo que criamos com tanto pensar e tempo, e ali, no nada, se formam em pedras, nuvens, cascas de arvores... cada pensar, cada idéia, minhas palavras, as suas, as nossas...quantas idéias, quanta poesia, e tanta prosa sem fim... sim, apostaria tudo outra vez. Não me arrependo, correr o risco de poder riscar mais traços em folhas esperando a poesia certa, o desenho simetricamente sinestésico. Sem formas, sem cores definidas, mas totalmente claro e entendível a qualquer um, com o sentir, com o coração.
Sim, ainda riscarei muitas folhas correndo meu risco pessoal. O fim, o ponto, só vai estar quando assim o for. Enquanto isso, minha mente liberta da escravidão de um corpo limitado a responder os estímulos sociais e comportamentais ultrajantes a minha compreensão de mundo. Me enquadro de brincadeirinha no sistema, como um vírus, trabalhando junto ao operacional, mudando o que se pode, alterando os bits e os genes de quem puder, injetando poesia e cor onde conseguir. Tenho ainda a magia de querer evoluir e amar, e vou continuar, não abri meus olhos por nada, já havia escrito antes que o pensar nos torna leves, insustentavelmente leves para nossas atitudes, mas em contra partida, nos torna pesos impraticáveis para o resto do mundo, nos faz peças únicas e isoladas do restante que claro, é o restante. Mas por tentar saber, cada passo a frente, é mais um passo a frente, ao conhecimento, a possibilidade de aprender, amar, conhecer novas sensações e fazer uma historia digna de ser lida e admirada por nós mesmos. Não, mais vale apostar dobrar uma bela historia que ser inerte a bancar a mesma delas por uma curta eternidade sem valor.