No elevador

No elevador

Alguém aí gosta de usar elevador? Eu detesto. Acho que preferiria lavar cachorro a ter que trabalhar como ascensorista. Para mim, tudo nessa caixinha é ruim: fechada, escura, pequena, fedida. O pior de tudo é você ainda se deparar com situações não muito agradáveis dentro dela.

Para mim, pode ser chamado de “O lugar de cheiros”. É cheiro de tudo: xampu (logo de manhã), creme dental e desodorante renovado (depois do almoço), comida (marmitinha de manhã), perfume então, nem se fala. Vai desde o da revistinha até o das lojas chiques do shoping. E quando começa o frio? O cheiro de casaco guardado há um ano impera no recinto. No meio da tarde, tem gente que vem da lanchonete e aí prolifera cheiro de coxinha fria, pão-de-queijo murcho, suco de laranja azedo que só. Sem contar os outros cheiros... que poderiam ser chamados de odores ou fedores... nem falo nada.

Eu não sei o que é pior, se quando alguém entra e fala um bom dia ou boa tarde, ou se entra e não fala nada. Precisa cumprimentar? O que diz a etiqueta, heim? Se falarem eu respondo, senão, não falo nada. Do jeito que entro saio.

A maioria nem se olha. Uns ficam estáticos olhando para o marcador de andares. Já vi uns que vão acompanhando de um jeito que até mexem os lábios: um, dois, três... mas é melhor assim do que quando entram duas ou três pessoas conversando. Parece até que as paredes estão se tremendo, que a caixinha está balançando. Risada dentro do elevador devia ser proibida por Lei Federal. Não precisava nem justificativa. Não pode e pronto.

Outra situação chata é quando está lotado e o infeliz que vai descer logo no primeiro andar se alojou lá atrás. Tem que descer umas cinqüenta pessoas (pelo menos parece que tem esse tanto) para o infeliz passar. E ainda vai passando com a maior cara-de-pau e falando: com licença. Ah eu heim! Sempre tem um educado que fica lá segurando a porta enquanto o descansado leva horas para sair do fundo do elevador. Deve escolher ir para o fundo porque quer se olhar no espelho, ajeitar o cabelo, espremer espinha, durante o percurso. Só pode ser isso. Para resolver, deviam fazer os elevadores com cadeiras numeradas por andar. Quem vai para o primeiro senta na cadeira de número um e assim por diante. Lotou a cadeira de seu andar, já era, espera o próximo elevador. É claro que as de número um ficariam bem na frente. Ou então fazer a caixinha toda espelhada.

Quando o elevador não tem ascensorista e tem gente perto dos botões é uma coisa de louco. Chega me corre um frio na espinha ao escutar um sonoro “aperta o cinco por favor?” . Vontade pular no poço ou sair pelo teto. Tudo bem que é uma situação complicada pois se já tem gente na frente dos botões, como vai apertar? Desagradável... e não tem jeito. Nesse caso, para resolver, podia ser assim. Todo mundo entrava e ia ficando no meio. As laterais livres. Podiam até colocar uma placa escrito “proibido parar” e pintar um quadrado no chão, como fazem com extintor de incêndio. Pronto. Era só apertar e se acomodar no meio. Ou então, se acomodava e esticava o braço para apertar. Nada de pedir para os outros apertarem o botão. Isso é um problema seu. Ou então, colocava os botões no centro, numa placa, e as pessoas iam se deslocando para as laterais. Mas aí ia dar problema na hora de sair, com aquela placona no meio. Deixa sem placa mesmo.

Normalmente, tem um que atende o celular lá dentro. Tooooodo mundo finge que não está prestando atenção na conversa, mas está sim. Mesmo quando a pessoa fica toda sem jeito e fala bem baixinho. Pode reparar que quando isso acontece fica um silêncio mórbido porque tá todo mundo tentando escutar. Acho que deve ter alguém que já fez “psssssssiu” se outro começa a falar junto com a conversa de celular e ele não pode escutar. Mas tem pior. Tem sempre um sujeito que atende falando muito alto. E mulher então? Chega dá turbulência na caixinha, gente. Tentando marcar horário no salão: “oi (esse oi então se repete mil vezes)! Tá falhando... tá me ouvindo? Oi! Tô no elevador! Se eu sumir... oi! É, marcar um horário... Amanhã...oi! dez horas... três não! DEZ horas!!! (berrando) isso... pé e mão... oi! isso... e depilação da axila (bem baixinho)... depilação da axila! (mais alto um pouco)... DEPILAÇÃO DA AXILA!!!!” (af! Sem comentários). Nessa hora tem homem que até dá uma ânsia de vômito.

A atitude das pessoas dentro de um elevador deveria ser igual aquela de quando se entra na igreja (não precisa ajoelhar gente, pelo amor de Deus!). Todo mundo quieto, olhando para o chão seria o ideal, terminantemente calados. Olha que situação ideal!

Ou então, filas. Que tal? As pessoas iam entrando e fazendo filas de acordo com o andar que iriam descer. Mas sem ninguém ficar perguntando nada. Que adivinhe qual é o andar em que os outros irão descer. Senão fica igual fila de cinema. O infeliz vê que a fila está indo para o cinema 4 mas tem que perguntar: essa fila é para o cinema 4? Acho que é porque o ser humano tem mania de interagir até no elevador. Se fizer isso como no cinema aí vira um diálogo interminável: “qual seu andar? Sexto. Ah é o andar da Fulana, né? Nossa, quanto tempo não a vejo. Ela está bem? Soube que separou e não vi mais” E por aí vai...por isso, talvez essa idéia da fila não dê certo também. Tudo pelo silêncio, lembrem-se.

Já viu briga de casal no elevador? Cachorro fazendo xixi no cantinho? Bola de sorvete caída no chão? Eu não vi, mas tem. Com certeza tem.

Você deve estar achando que teve uma ótima idéia ao pensar que para resolver esse meu problema com elevadores basta não usá-los. Simples, vá de escada! Mas quando se trabalha no décimo nono andar (tenho pavor de altura mas, fazer o quê?) é difícil. Impossível não é, mas... no primeiro dia até vai. No segundo... agora... eu, heim! Os atletas diriam que com o tempo se ganha preparo físico. Não é isso que preciso. Preciso apenas chegar nos andares. Se escada tivesse sido criada para ganhar preparo físico, não existiria academia. Então, me deixa subir de elevador mesmo. Ah! E descer de escada não dá também. Vai chegando no décimo oitavo começa uma vertigem, uma tonteira infinita, as pernas começam a pesar, cãibra nos pés. Pronto! Elevador mesmo.

Já viu trombada na entrada da caixinha? Essa me faz rir. Os desesperados para entrar não esperam os despreocupados saírem e aí bum! A vontade de rir logo se dissipa se os dois se conhecem e engatam uma conversa fiada, com a porta abrindo e fechando. Mil e quinhentas pessoas em pé, esperando os dois acabarem a conversinha animada até que quando a porta está quase se fechando um dos dois dá um berro (ai!): “IH! EU IA DESCER!” Dá vontade de falar: “Falou certo, IA descer. Não desceu, agora não desce mais” Abre a porta de novo, todo mundo esperando com ódio e vai embora pedindo desculpas ao amigo por causa da trombada. O amigo nem lembrava mais disso.

Eu queria saber quem inventou elevador. Se não tivessem inventado, talvez hoje só existissem escadas rolantes. Ahhhh isso seria bom... você iria subindo ou descendo olhando tudo a volta (se não tiver medo). Não precisaria falar com ninguém, por que ou você está de costas para alguém ou tem alguém de costas para você. Imagine uma escada rolante que fosse do térreo até o último andar. De preferência do lado de fora do prédio e coberta. Você ia subindo e olhando a vida lá fora, sem apertos, sem conversa, sem odores. Quanto a altura, é só não olhar para o chão, leva um livro, uma revista, um palm top.

Por causa desses meus momentos de suplício dentro da caixinha, vivo sonhando que estou em uma delas e pior, nos meus sonhos, elas se deslocam na horizontal e diagonal também. Já viu isso? Pois é... coisa de sonho mesmo... já tive sonhos de horas dentro de elevador. Ia para cima, para os lados, descia. Acordava no chão.

Tem situação trágica também. Tive que resolver problemas em um prédio em que nunca tinha ido antes. Quando entrei no elevador, pedi ao sujeito (pior é que também já pedi para apertar para mim): oitavo, por favor (cruzes!)? Apertou. Obrigado. E desceu no próximo. Fiquei sozinho. Como assim? Achei que ele era ascensorista. Calma, gente. Eu pedi porque achei que era ascensorista e porque não existe coisa pior do que você tomar a iniciativa de apertar o seu andar sendo que tem uma pessoa (coitado!) que trabalha com isso. Falta de educação total. Mas a roupa dele era de ascensorista... estranho...

Tem gente que gosta. Já vi gente falando: ai, queria que esse elevador quebrasse agora só para ficar parado um tempão e eu descansar um tempinho. Só lembro dos meus olhinhos atravessando o coração do cansado infeliz. Não tem cama em casa não? Falta de idéia, essa de dormir no elevador. É melhor esquecer a história da cadeira senão é capaz de você chegar de manhã ver um sem noção desses encostado já dormindo e quando sair a noite o agora descansado acordando para ir casa. Bocejando e espreguiçando dentro do elevador... que cena mórbida!

Não tem solução para melhora. O jeito é fechar os olhos, os ouvidos... e a boca quando precisar usar um.

Liz Hardt
Enviado por Liz Hardt em 15/02/2008
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