No banheiro...

Devia ser proibido escovar os dentes em banheiro de empresa. Com isso, evitaríamos algumas cenas torpes. Uma delas é ver um colega de trabalho se preparando para ir ao banheiro começar a higiene bucal após o almoço com um pedaço de fio dental no ombro. Isso mesmo, um pedaço de ombro a ombro, uns 60 cm de fio mais ou menos, tipo um cachecol. Pode acreditar, pois eu já vi. Outra coisa que me causa ânsia é ver o indivíduo se dirigindo ao banheiro com a escova já com uma camada generosa de creme dental. Para que esse exagero, gente? Devia vir escrito na embalagem a quantidade, por exemplo, sugerimos uma gota, sugerimos uma porção do tamanho de um grão de arroz e não uma colher de sopa como é o usual (argh!).

Mulher, geralmente, é mais discreta, tem um nécessaire com tudo, desde fio dental até secador de cabelos. Tem. Nunca viu ou ouviu (estrondo!) ninguém secando cabelo no banheiro de sua empresa? Eu já vi.

Outra coisa que deveria ser proibida também era pedir coisas emprestadas. Se você não trouxe ou não tem fio dental, problema seu, usa um fio de cabelo seu. O pior é quando você escuta o seguinte diálogo no banheiro (juro): tem fio dental? Tenho. Me empresta um pedaço? (como assim me empresta? Me dá né? Aí é claro, em seguida, a resposta ...) Empresto mas depois você lava, põe para secar e me devolve tá? Isso é piada, gente, pode acreditar. Das mais sem-graça. Quando ouvi isso, corri para o cubículo pois achei que ia devolver o almoço todo. Tudo bem que é uma piada mas eu tenho o costume de imaginar as coisas, fazer uma cena mental do que as pessoas estão falando e nesse caso... imagine ir ao banheiro no meio da tarde e encontrar um monte de pedacinhos de fio dental (uns 60 cm mais ou menos) pendurados com pregador na janela para secar. Sem comentários.

Por falar em coisas secando na janela, acho que tem gente que não tem varal em casa. Já vi guarda-chuva (até aí tudo bem), casaco (ainda passa), meia-calça (deve ser para arejar), sapato... e como é que faz? Ninguém tem nada a ver com o seu problema de ter pisado em alguma poça d’água no caminho e seu sapato molhou e deformou. Eu queria ver o infeliz andando descalço pela empresa, isso não vi ainda, Graças a Deus.

Sabe aquela piada que correu pelos e-mails afora de todo mundo em que uma pessoa responde a outra que está falando ao celular dentro da cabine? Aconteceu com uma amiga, de verdade. Aliás, com duas. Ficaram rindo o resto da tarde depois. É muito engraçado mesmo vendo o lado cômico da situação. Agora, se olhar pelo lado nojento que é a pessoa conversar com outra enquanto está fazendo suas necessidades íntimas é demais para mim! Não me conformo com isso. O outro, na linha, é obrigado a ouvir sons grotescos, barulho de descarga e tudo?

Tem gente que choooooooora no banheiro. Eu nunca pergunto se está tudo bem, se quer ajuda, pois banheiro não é lugar de chorar.

Tem gente também que fica lá na janela, olhando o horizonte, pensando na vida. Deve ficar tão longe nos pensamentos que nem sente cheiro, não ouve barulho, nada, pois não ficaria mais do que cinco minutos na janela, pulava.

Meu desespero de ter que usar banheiro de empresas oscila. Tem época que nem ligo, sou capaz até de ficar alguns minutos conversando com o pessoal da faxina sobre o tempo e o noticiário da manhã. Mas também já chegou a um ponto de entrar e se tiver alguém, sou meia volta e vou embora. Passo o resto do dia sofrendo mas não volto enquanto o banheiro não estiver vazio. Porque se você for pensar bem, tem uma pessoa ali do seu lado fazendo coisas que você talvez não queira ver nunca na sua vida. E isso separado apenas por uma parede. Por causa disso, já sonhei algumas vezes que estou sentado em uma privada, calças abaixadas, embaixo do meu prédio. Já sonhei e não foram poucas as vezes. No sonho, estou com uma sensação de vergonha que não sei por que pois é a coisa mais comum do mundo e continuo lá sentado, vendo a vida, esperando não sei o quê. Acordo em um rompante e corro para o banheiro para me certificar se estou por lá, imagine a confusão.