Baratas

Estávamos todos no escritório concentrados em nossos trabalhos. Entre planilhas, e-mails e telefonemas, os mais diversos pensamentos e interesses. De uma hora para outra um assunto unificou a sala inteira em torno de um tema intrigante: as baratas.

É inacreditável como um assunto assim tão frugal pode promover uma assembléia em torno de uma mesa de trabalho em questão de segundos. Não sei como começou direito, mas uma colega comentou alguma coisa sobre uma barata que ela quase pisou em não sei que dia desta semana. Pronto. A assembléia teve início. Nunca vi gente tão empolgada em torno de um tema. Os enredos invariavelmente tinham o seguinte conteúdo: mulher x barata x pânico. Deste mix surgiram os mais diversos e cômicos relatos envolvendo esta singular relação entre as mulheres e as baratas.

Uma quase passa o noite inteira no banheiro depois de aprisionar a coitada da barata dentro do box e ela, pelada em cima do vaso sanitário, em estado de pânico, não sabia se gritava ou só chorava. Outra, quase bate o carro no trânsito pelo pavor provocado pela suspeita de uma barata debaixo do banco do motorista. Até strep-tease já aconteceu em pleno centro da cidade protagonizado pela irmã de outro colega, que as gargalhadas, se vangloriava de ter jogado uma barata no vestido dela só para ver a reação. A mulher ficou de calcinha e sutiã em pleno Viaduto do Chá. Mas, o mais engraçado não foi a história propriamente, mas a dinâmica que a conversa tomou.

Foi chegando gente até da sala vizinha, gente ocupada com relatórios da controladoria que claro, também queriam contribuir para este momento de integração cultural. Sem querer bancar o enjoado, é claro que também tinha uma historinha pitoresca para contar. Minha irmã certa vez, ainda quando eu morava em Natal, numa tarde tranqüila de Domingo. Estava eu assistindo Planeta Terra da TV Cultura quando, sem mentira nenhuma, a mulher começou a fazer um escândalo dentro do banheiro, que mais parecia um estupro. Ela gritava, batia na porta, ouviam-se barulhos de coisas caindo e quebrando dentro do banheiro e pedidos enlouquecidos de socorro. Sem hesitar, corri para socorrê-la. Pedia para abrir a porta, perguntava o que estava acontecendo e, de um movimento só ela escancara a porta do banheiro, nua em pêlo, sai correndo pela casa gritando, “uma barata, uma barata, uma barata, mata pelo amor de Deus.” Pelo tamanho escândalo, o que mais parecia era que um dinossauro estava dentro do banheiro e não uma pobre e simples baratinha. Será que não daria uma tese de mestrado? Para quem se habilitar, aí vai a dica: “Fobia da mulher brasileira: Baratas. Estatísticas e estudos de caso”.

------------------------------------

http://www.paulo.depoty.nom.br

Domm Paulo
Enviado por Domm Paulo em 25/01/2008
Código do texto: T833098