Sem novidade

Quando o sol lança seus primeiro raios sobre os colossos de São Paulo, é por que já queimou as areias de Natal muito antes. Latitudes diferentes dentro do mesmo fuso horário é o motivo deste fenômeno. Lembro disto toda as vezes quando abro os olhos, pois ele me chamando, “hôme acorde, tá passando das nove”. Desconsiderando as diferenças físicas evidentes dentre essas cidades, fico lembrando agora muito mais de suas similaridades, afinal existe um fato muito mais contundente entre elas do que os acidentes geográficos, que é o acidente Brasil; Para escrever a gente sempre procura alguma novidade, então fico aqui quebrando a cabeça para descobrir uma, seja aqui em Sampa ou nas areias de minha terra – novidade está difícil.

Fujo muito deste gênero, pois sinto dificuldade mesmo de converter as palavras. Prefiro ler minha amiga Zélia Freire que basta passear seus dedos pelos mestres para nos brindar com seus textos, fica lá escondida do sol; Ou mesmo José Correia que garimpando da trivialidade diária nos brinda com suas palavras; Yasmine Lemos e a delicadeza de seus poemas; Mas eu vou para rua, preciso do movimento. Camiseta, jeans, tênis e rua. E pegue sol na cabeça, e pegue café na goela, mas novidade está difícil. O que você assiste na rua? Pedinte, carroceiro de papelão, carros e carros, ônibus lotados, gente apressada....seja aqui, em Natal ou qualquer outro lugar desse país, as cenas são as mesmas; Novidade está difícil.

Vamos, pegue o jornal para ler as notícias. Ahh, como se fosse fácil. Vamos ler sobre os desabrigados da última chuva, seus prantos, seus desesperos, suas misérias; Vamos ler sobre os congestionamentos e transtornos do trânsito, o caos, os desperdícios, os atropelamentos; Vamos ler sobre os assaltos aos bancos, aos motoristas, ou o suicídio de um assaltante encurralado; Não, não, vamos ler sobre as propriedades invadidas por movimentos agrágrios e urbanos; Melhor, vamos ler sobre a vida fútil das celebridades que nos contam empolgadas sobre suas últimas compras e viagens, coisas que a esmagadora maioria nunca terá acesso, mas quer saber; Está difícil trazer uma novidade aos leitores; Pois é tudo velho, tudo manjado, tudo caduco e sem solução (que Deus vos abençoe, pobres jornalistas).

Saiu à rua e é tudo igual. As pessoas correndo para ganhar dinheiro para pagar a prestação do carro e o aluguel, pessoas pedindo em todas as esquinas, ou querendo ti vender algo que você não precisa – o consumo, o consumo. O Viaduto do Chá vem chegando e logo vem à cabeça o histórico de suicídios deste cenário, que agora já não dá mídia, pois recentemente vi um homem que se atirou de lá e nem um comentário sequer na TV que tanto gosta de sangue (quem sabe esse homem também não cansou de esperar por novidades?). Valhei-me loucos poetas, quando cantam paraxodos deitados em areias de praias sob forma de sereias; Novidades enchendo museus impregnando nossos narizes de mofo novo; Seus delírios sempre tão bem-vindos e necessários para colorir esse cinza que teima em fazer parte de nosso dia-a-dia tão repleto de vazio e velharia.

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Texto integrante do e-book Sete por Sete – Contos e Crônicas.

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Domm Paulo
Enviado por Domm Paulo em 23/01/2008
Código do texto: T829635