A Amizade e a Fé: Lembrança do Pastor Carlos Emídio Sabino!
De tempos em tempos, aparece uma pandemia na face da Terra. Tenho um pensamento de que todas elas estão sob o controle dos poderosos. Ocasionalmente, eles permitem essa carnificina para controlar a população do planeta. Entretanto, nenhuma foi tão cruel como a COVID-19. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, a pandemia já matou mais de sete milhões de pessoas no mundo, e no Brasil já são mais de 714.000 pessoas. Entre essas que faleceram no Brasil, está o pastor Carlos Emídio Sabino, servo do Deus Altíssimo, com o qual tive o prazer de caminhar por um bom tempo ao longo dessa jornada cristã.
Estávamos no ano de 1989, no mês de dezembro, era a primeira vez que eu participava de um culto na Igreja Evangélica Betânia do Caladinho de Baixo, na cidade de Coronel Fabriciano, no caloroso estado de Minas Gerais. De repente, depois de um louvor abençoado, ouço a ministradora dizer: “Agora vamos passar a palavra para o pastor Carlos Emídio Sabino.”
Surge no corredor, à direita da igreja, um homem de altura mediana, cor morena acentuada, aparência sisuda, a protuberância abdominal já se manifestava em pequena escala e suas entradas já o condenavam. Breve, breve teríamos mais um careca no nosso meio. Confesso que, inicialmente, o achei muito sério, um homem de poucas palavras.
Entretanto, as pedras que encontraríamos ao longo da caminhada cristã fariam com que nos tornássemos discípulo, discipulador e grandes amigos. Uma mão lava a outra e as duas lavam o rosto. Ele atravessou uma fase conturbada no ministério e, naquela época, eu estava no ápice da minha depressão. Ocasionalmente, eu ia conversar com ele em seu gabinete. Outras vezes, ele ia até a minha casa. Sei que essa proximidade fortaleceu tanto um como o outro. Em alguns momentos, ele era o meu confidente, em outros, o papel se invertia. Sempre estávamos juntos: seja numa oração, seja nos cultos, seja no cinema lá de casa, seja nos montes, etc.
Aquela sisudez era somente aparência. Quantas vezes ríamos de montão nos churrascos que proporcionávamos, principalmente na casa do Manuel, que era uma pessoa muito divertida. Naquela época, eu era o tesoureiro da igreja e o anfitrião ficava zoando eu e o pastor. Ele falava assim: “Pastor, eu só irei para a igreja se o senhor me der o cargo do Gilson. Farei da seguinte forma: jogarei o dinheiro dos fiéis para cima, aquele que pregar no teto é da igreja, o que cair será do meu bolso.” Quanto mais ele insistia nesse assunto, mais caíamos na gargalhada. Foram momentos muito hilários proporcionados pelo TODO PODEROSO.
Teve uma época em que o pastor sentiu necessidade de que tivéssemos um tempo de oração nas segundas-feiras. Então ficou combinado que estas orações seriam realizadas na casa do Rogério: um irmão que tinha um coração grandioso. A oração começou com o Carlos, Gilson, José Maria, Rogério, Wellington e o João Dutra. O José Maria começava a tocar o violão e daí a pouco o Espírito de Deus começava a se manifestar no nosso meio. As notícias da nossa reunião na casa do Rogério começaram a se espalhar e, de repente, uma grande multidão todas as segundas estavam ali reunidos para orar. O nosso propósito era buscar a Deus e ter mais comunhão. Uma vez ouvi falar que daquele pequeno grupo de oração que surgiu inicialmente conosco nasceu uma igreja evangélica. Testemunhamos várias vezes vidas serem curadas e rendidas diante do Senhor Jesus Cristo.
Algo que eu achava legal nessa reunião de oração era que não estávamos preocupados com placas de igrejas. Apenas orientávamos as pessoas para procurarem uma igreja onde elas se sentissem bem e que pregasse a Palavra de Deus. Lembro que daquela multidão, foram poucos os que se juntaram à nossa igreja. Estávamos ali porque necessitávamos e precisávamos de Deus. O nosso propósito era apenas aumentar nossa intimidade e comunhão com Deus.
Em 1998, adquiri o meu primeiro carro, novinho em folha, rs. Um Pálio ED, 1.0, duas portas, cor vinho. Como o Concílio da Igreja seria realizado em Altônia, no Paraná, disse a ele: esta é a oportunidade de amaciarmos o motor deste carro. Como ainda não tinha habilitação, foi o pastor que teve o privilégio de guiá-lo. Esta viagem ficou marcada por vários fatores.
Como a viagem era extensa, em torno de 1500 quilômetros, fizemos uma parada na cidade de Guarulhos, na casa do irmão do pastor. Infelizmente, para chegar até a casa dele, tivemos que passar pela rodovia Dutra. Aquilo me causou tanto pânico que eu chorava e ficava encolhidinho na poltrona do carro. Quando uma carreta passava do nosso lado, eu dizia: cuidado, esta carreta vai passar por cima de nós. Meu coração disparou, parecia que ia pular para fora. E o pastor, bem tranquilo: calma meu irmão, Deus está no controle.
Finalmente, chegamos a Altônia, uma cidade simples e pacata. Na época, achei os preços das casas bem interessantes. Foi um tempo bom que tiramos para nossa comunhão. A ida pareceu interminável e muito cansativa; no entanto, a volta foi muito divertida.
Paramos num local simplesmente lindo. Paramos no acostamento e tiramos algumas fotos daquele lugar encantador. Na hora de almoçarmos, paramos na cidade de Cornélio Procópio, também conhecida como a Capital do Café. A comida não era tão saborosa, todavia, matou a nossa fome e adequou ao bolso.
O bicho iria pegar ao chegarmos em Marília, lugar que paramos para jantar. Em toda a minha vida, nunca entrei num banheiro tão chique como aquele. Tanto o piso como as paredes eram de granito, o teto era rebaixado em gesso, as torneiras eram ativadas por um sensor; ao aproximarmos acionava o fluxo de água, e as mãos eram secas através do ar quente que saía do aparelho. De repente, a minha ficha caiu: Jesus, esse luxo todo será cobrado no jantar. Falei com o pastor: xiii, coitado do nosso bolso, vamos procurar outro lugar. Aí ele, rindo, disse: agora não tem jeito, teremos que encarar a fera. Ao passar diante do self-service, encontrei uma placa com os seguintes dizeres: Sirva-se à vontade, R$ 42,00 o quilo. Gente, quase cai para trás, e o pastor desatou a rir. Imaginem como essa comida era cara. Falo desse preço há quase três décadas, rs. Comi igual um gatinho, rs.
Saiba, Carlos Emídio, o senhor foi mais que um pastor, foi um amigo que carregarei por toda a eternidade. Saiba que a Igreja Betânia perde, e muito, a identidade de Cristo com a sua partida. Hoje está completando quatro anos que o senhor foi morar na glória com o Nosso Senhor Jesus Cristo, e esta é apenas uma pequena homenagem a ti. Que Deus o tenha contigo.