O RELÓGIO CASIO

Naqueles dias ensolarados da juventude, onde a vida pulsava com intensidade, eu era um jovem cheio de ideais revolucionários. A rebeldia corria nas veias, enquanto eu e meus amigos nos reuníamos em praças e calçadas, discutindo sobre filosofia, literatura e o que significava ser livre. Nossos encontros eram verdadeiras celebrações de pensamentos contestadores, com sorrisos largos e olhares cheios de futuro.

Lembro-me das tardes em que devorávamos clássicos da literatura brasileira e mundial. Cada página lida era um convite a sonhar, a questionar o status quo. Discos de bandas psicodélicas e rock progressivo ecoavam em nossas conversas, criando trilhas sonoras que nos transportavam para mundos onde tudo era possível. O relógio Casio F-91W que eu usava não era apenas um acessório; ele simbolizava aquele tempo efêmero, repleto de vivências intensas e promessas de mudança.

Os anos passaram, e a vida tomou rumos inesperados. Aquele jovem contestador se viu imerso nas responsabilidades da vida adulta. As reuniões com amigos foram se tornando menos frequentes, as discussões acaloradas deram lugar a conversas sobre trabalho e obrigações cotidianas. Entretanto, as memórias daqueles dias nunca se apagaram completamente; elas permaneciam como ecos suaves no fundo da minha mente.

Recentemente, minha filha Thalyta Cristine me surpreendeu com um presente: um relógio Casio idêntico ao que eu usava na adolescência. Ao segurá-lo em minhas mãos, uma onda de nostalgia me envolveu. As lembranças voltaram como uma brisa fresca em um dia quente – as risadas compartilhadas, os sonhos trocados sob o céu estrelado, as revoluções que imaginávamos.

Aquele relógio não era apenas um objeto; ele era um portal para uma época em que acreditávamos que podíamos mudar o mundo. E ao olhar para ele agora, percebo que, embora o tempo tenha passado e algumas lutas tenham mudado de forma, a essência da rebeldia ainda vive dentro de mim.

Naquele momento, entendi que os ideais revolucionários não se perdem; eles se transformam e se adaptam às novas realidades. E assim como aquele velho Casio marca as horas de um novo tempo, também me lembra que nunca é tarde para sonhar novamente.