O preço duma CNH
No ano de 1986, com 25 anos de idade, era cabo da Polícia Militar de Goiás e era lotado no Regimento de Polícia Montada (Cavalaria). Na época cada quartel era responsável pelo trânsito da sua área. E eu exercia a função de guarda de trânsito numa escala de 06 por 18 horas, ou meio expediente, e escala extra nos finais de semana. Foi quando decidi tirar a minha CNH – Carteira Nacional de Habilitação -, para dirigir ônibus e motos, para ganhar um adicional no meu salário, embora com mais responsabilidade no serviço.
Então procurei uma autoescola com objetivo de ter aulas para dirigir ônibus e motos de todas as cilindradas. Carro pequeno já sabia dirigir por ter possuído um Fusca no ano de 1983, ano 1974, cor marrom savana; e, às vezes, dirigia viatura. Na autoescola peguei 03 aulas de ônibus e 03 de moto. Na teoria não tive aula, por ter experiência em ter trabalhado no Batalhão de Trânsito e conhecer o Código de Trânsito. Pensei que seria fácil.
No dia do teste de volante no DETRAN, a realidade era outra, estava ansioso e inseguro. O meu trajeto no ônibus acompanhado do fiscal, era sair, fazer uma rampa, percorrer cerca de 500m dentro do pátio do DETRAN onde havia sinalização horizontal e vertical, sair para o perímetro urbano, passar por um semáforo, circular a praça, retornar e finalizar com a garagem, ou seja, manobrar e colocar o ônibus entre duas faixas paralelas só pelo retrovisor. Achei que tinha me saído bem, mas o fiscal me disse: “Você andou o tempo todo com as portas abertas e deixou de respeitar alguns sinais horizontais, contudo está reprovado, prepare-se mais! Aguarde o teste de moto.”
Estava abalado com o resultado, mas tinha que fazer o teste de moto, que era sair, subir uma rampa, parar num sinal e passar em ziguezagues entre vários cones. Além do sol estarrecedor, tinha que colocar o capacete o que nunca havia feito mesmo na autoescola. No trânsito motociclistas não eram obrigados a usar capacete. Foi uma sensação estranha, mas não havia tempo para adaptação. Deram-me uma moto diferente da autoescola. Fiz ela pegar no pedal e saí para o teste deixando-a apagar no sinal pare, fiz ela voltar a funcionar e fui para os ziguezagues entre os cones, e onde coloquei o pé no chão para não cair devido a velocidade incompatível ou acelerada para as curvas. Algumas candidatas riram do meu nervosismo. Nem na autoescola me saí tão mal. O fiscal me disse que eu estava reprovado e para me preparar mais. Na saída esqueci o meu manual de trânsito de motorista.
Acabrunhado voltava à autoescola para ter mais aulas práticas de direção, pois havia algo de errado comigo, perdera a confiança em mim mesmo, razão do meu nervoso. E perguntei ao meu instrutor quantas aulas seriam suficientes para passar nos testes. Ele me respondeu: “Não vai ser o número de aulas que vai te aprovar, mas sim a sua consciência e tranquilidade de que aprendeu e que é capaz de dirigir dentro das normas do trânsito. ”
Então voltava aos testes de volante, com candidatos de todas as partes do Estado. Ouvi um homem dizer que dirigia há anos, mas que no teste ficava nervoso, perdia o controle da direção e era reprovado, e que o problema era o fiscal que o incomodava. Vi uma mulher de tão nervosa atravessar o ônibus numa esquina, e muitos motociclistas derrubarem os cones.
Apesar de toda minha apreensão, estava confiante que dessa vez iria passar de qualquer maneira. E na hora H ignorei a presença do fiscal de prova. E não deu outra, fui aprovado nos exames de habilitação para dirigir ônibus e motos, categoria AD. E fiquei feliz por mais vitória em minha vida!
Goiânia, 27 de janeiro de 1990
(Do meu livro Nova Oportunidade, artigos, crônicas e homenagens, editora Contato Comunicação e UBE, edições consorciadas, Goiânia, Goiás, 2024)