O dia que dei carona a um serial killer!

Quero deixar bem claro que, em relação à pessoa classificada pela polícia como serial killer, que nos três dias que passou em minhas acomodações, não tenho nada que o desabonasse. Preocupado com a exposição dele ou dos parentes, epitetarei de Pregador. Quero que saibam que tomei a liberdade de narrar este acontecimento após pedir a opinião de um inquilino meu, que também trabalha na polícia.

Eu estava com algumas pendências para resolver no Vale do Aço, em Minas Gerais. Perguntei para a minha mãe o que ela achava de darmos umas voltinhas. Ela, como é apaixonada por estrada, aceitou logo. Então, no dia 25/03/2022, partimos rumo à cidade de Coronel Fabriciano. Esse trecho de Mucuri a Teófilo Otoni tem belas paisagens. À medida que a viagem se desenvolvia, ela ia admirando as paisagens: muito verde, pastagens, árvores e muito gado. Ela tinha que ser fazendeira, vai gostar de apreciar as vaquinhas.

Paramos na casa do Pessoa para revê-los e espicharmos as pernas. Aproveitamos o embalo e completamos o pacote almoçando. Nas BRs 116 e 381, o movimento estava intenso, muitas carretas nas estradas. Quando isso acontece, a viagem é mais demorada. Às 18 horas, chegamos a Coronel Fabriciano, capital do Vale do Aço, rs.

Estávamos na casa da minha irmã, quando, por volta das 10 horas, recebi uma ligação. Era uma senhora que queria alugar uma das minhas acomodações para um suposto amigo. Ela pediu informações sobre Mucuri, se tinha muito movimento, pois procurava um lugar que fosse bem tranquilo. Como era época de baixa estação, fiz um preço bem camarada: 800,00 reais. Se ele gostasse da região, teríamos que combinar um preço mensal. Ao saber que estávamos em Fabriciano, a senhora me perguntou se eu daria carona para ele. Sem hesitação, disse: "Sem problemas, que ele me aguarde por volta das 10 horas no posto Planalto II, no trevo da BR 116." Dei a ele as características do meu pretinho básico para ele não ficar perdido, rs.

Para que vocês possam ter uma melhor explicação, deixei um registro importante para trás. Quando fui para o Vale do Aço com a minha mãe, deixei um casal muito simpático de inquilinos em minhas acomodações, que na época residia no bairro São Geraldo, em Coronel Fabriciano.

Dando uma pausa para fazer uma breve citação da tarde em que me encontro. Gosto de dias assim. O céu cinéreo, coberto de nuvens, porém, uma leve brisa refresca o ambiente. As maritacas, que gostam de fazer hora comigo, apareceram. Elas ficam gritando até que eu me levante e vá correr atrás delas, rs. Os canários resolveram cantar que é uma beleza.

Como combinado, numa terça-feira, 29/03/2022, paramos no posto Planalto II para darmos carona para o Pregador, que ficaria em uma das minhas acomodações.

Não me recordo da roupa que ele trajava. Entretanto, lembro que ele estava de óculos, aparentemente ostentava ser um homem culto, de estatura mediana, cabelos lisos pretos e moreno claro. Eu e a minha mãe estávamos na frente e ele foi ao banco traseiro, juntamente com a Poly, cadela da minha mãe. O Pregador parecia gostar de animais, pois estava brincando muito com ela. Expressava-se muito bem e, aparentemente, era muito simpático.

Não sei por qual motivo, talvez para fazer uma gracinha para a minha mãe, enquanto viajávamos, íamos parando. Paramos uns trinta minutos em Itambacuri, depois parei em Carlos Chagas. Só sei que às 19h30 chegamos a Mucuri. Como já estava tarde e eu cansado, deixei ele dormir na minha casa e no outro dia iria preparar uma acomodação para ele. No outro dia, cedinho, como estava quente, comprei um ventilador para ele colocar no quarto.

No outro dia, apresentei-o para o casal que ficou acomodado e tomando conta da minha casa, rs. Ele era um homem muito respeitador, me tratava de senhor, e era muito educado. Não me lembro se foi na quarta-feira ou na quinta-feira que começamos a falar sobre o evangelho. Disse a ele que no momento eu não estava congregando, no entanto, isso estava me incomodando. Ele me disse que congregou na Assembleia de Deus; todavia, atualmente se encontrava desviado dos caminhos do Senhor. Que isso também o estava incomodando, Deus estava cobrando a sua reconciliação. Uma coisa sei, Deus usa quem Ele quer, da forma que lhe apraz. Tinha um bom tempo que eu não sentia o quebrantamento de Deus; contudo, ao ouvir a maneira como aquele homem que chegara recentemente expunha as Escrituras Sagradas, eu chorei ao ponto de derramar algumas lágrimas pela face. Eu precisava voltar a congregar novamente, a ação do Espírito Santo, através daquele ser que eu mal conhecia, fora muito impactante. A partir daquele momento, senti que precisava voltar à minha comunhão com Deus. Eu estava perdendo o hábito de orar. Devido à ausência da leitura da Santíssima Palavra, os versículos fugiam da minha alma. Se eu não tomasse alguma providência, a minha alma seria cauterizada.

Sei que não sou dono da verdade, e nem pretendo ser; no entanto, em relação à nossa comunicação com Deus, eu penso da seguinte forma: Somos um ser tricotômico, constituído de corpo, alma e espírito. Por sermos depravados, pecadores, a nossa alma não pode ter contato com o Espírito Santo, pois o mesmo é santo, puro, imaculado. Por causa dessa ruptura, é o nosso espírito que nos comunica até o Espírito Santo. A prática do pecado nos distancia de Deus. Ele vai usando meios para comunicar contigo. O Espírito Santo vai ministrando. Chega um ponto em que, se a gente não ouve a voz do Espírito, a sua mente simplesmente cauteriza. A dureza e a indiferença do meu coração ao longo dos oito anos foi crescendo de tal forma que chegou um momento em que eu mesmo clamei: "Por favor, meu Deus, quebra essa indiferença do meu ser, quero voltar a ter comunhão contigo." Sinto falta da época em que o Senhor falava comigo e o meu coração se derramava na sua presença em prantos. E essa ação de Deus começou justamente com aquele estranho que expunha a palavra de Deus com muita eloquência.

Nesses três dias que ele estava aqui, estávamos sempre juntos, falando sobre um assunto ou outro. Um dia, sem saber de nada, falamos com ele que não sei por quê; contudo, aqui em Mucuri, bandido não passa despercebido: ou ele toma modo; caso contrário, ele é exterminado. E disse a ele que essa fama era forte na nossa cidade.

Teve um dia que ele começou a falar do seu passado. Disse que a paixão dele foi a primeira namorada; todavia, ela foi embora para a Itália e estava grávida. Fato que ele ficou sabendo recentemente que tinha um filho na Itália. Só sei de uma coisa, a história de amor que ele contou era tão linda que comentei com ele: "Como você vai ficar uns bons dias aqui, depois quero ouvir essa história detalhada para que eu possa fazer um conto." O papo rendeu tanto que, até então, o ventilador não fora ligado.

Na sexta-feira, eram umas 10h30, quando eu me preparava para levar a minha mãe ao supermercado, recebo uma ligação. Era alguém procurando alguma vaga para passar o fim de semana. Eu disse a ele que eu não funcionava daquela forma. Que ele tinha que fazer reserva com antecedência, para que eu pudesse organizar a suíte. Aí ele me disse: "Deixe eu dar uma olhada, caso não esteja muito suja, a gente mesmo limpa." Então disse a ele: "Vai lá, então, que pedirei a alguém para te levar na suíte." Liguei para o casal que estava hospedado lá, eles já estavam numa barraca tomando uma loirinha.

Então pensei: O jeito é ligar para o Pregador. Liguei para ele. Quando ele atendeu, perguntei o que fazia. Ele disse estar fazendo a ligação do ventilador. Perguntei se ele podia fazer um favor para mim. Ele disse: "Só se for agora." Então eu estava falando para ele: "Vai chegar um inquilino aí, você leva ele na quitinete para mim." Ele disse: "Tudo bem, seu Gilson, eu levo sim." Nesse instante, enquanto falávamos pelo telefone, alguém bateu no portão. Eu disse a ele: "Deve ser o inquilino, vai lá abrir o portão." Enquanto eu falava com ele, ele foi até o portão. Algo me assustou quando, pelo telefone, escuto: "Polícia, polícia!" e o Pregador dizendo: "Não atira, estou sem arma."

Aquilo me deixou preocupado. O que está acontecendo? Foi então que disse para minha mãe: "Preciso resolver algo lá em casa." Quando chego em minha casa, vejo uma multidão de policiais que vinha ao meu encontro: dois delegados e quatro detetives. De repente, um se apresentou dizendo ser delegado de uma cidade da região do Rio Doce e me perguntou: — O senhor é o dono da hospedagem? — Eu disse que sim. — Aí ele me perguntou: Você sabia que você hospedou em sua casa um serial killer? — Eu disse: Não. Vocês que estão dizendo isso. Nesses três dias que ele está em minha casa, não tenho nada a reclamar dele. Sempre me tratou com respeito. — Ele me pergunta: Como você fez isso? — Eu disse secamente: Como posso saber quem traz estrela na testa? O que faço é alugar as minhas acomodações e faço isso há quase uma década. — Aí o delegado, descontraidamente, disse: Fique tranquilo, estou brincando. Isso acontece com frequência em pousadas e hotéis. Você não é o primeiro e nem será o último. Infelizmente, vocês não têm como evitar isso.

Ao passar por mim o Pregador algemado, eu disse a ele: Eles são autoridades, eles que estão dizendo isso de você; no entanto, não tenho nada a reclamar de ti. Que Deus te acompanhe. — Aí ele me disse: Eu não sou isto não, seu Gilson, estou pagando por crime de outros.

Quando ele estava chegando ao portão, ele me disse: Eu não confio neles, mas no senhor sim. Faça-me o favor de enfiar a sua mão no meu bolso e enviar o dinheiro que tem aqui para a minha amiga. Enfiei a mão em seu bolso e contei novecentos reais. Disse a ele: Fique tranquilo, que hoje mesmo passarei o pix para ela.

Ao ligar para a sua amiga, disse a ela: Me dê o seu pix, pois o Pregador foi preso e pediu que você entregasse esses novecentos reais à sua irmã. A polícia civil acabou de sair daqui, levando ele algemado e disse que ele é um serial killer. A mulher pareceu transtornada e me disse que não sabia de nada disso e que apenas atendeu ao pedido da sua irmã. Ela me pediu para fazer a locação. E foi isso que fiz. Para acalmá-la, disse a ela: Pode ficar tranquila, quem sou eu para duvidar da senhora? Por acaso sou Deus? Os parentes podem ter feito isso, uma vez que seus telefones poderiam estar grampeados.

Refeito o susto, a polícia acabara de sair e observei que os seus pertences não foram levados. Perguntei a mim mesmo: O que fazer com isso? Lembrei que tinha o telefone do detetive que se passou por turista. Liguei para o número, ele me atendeu. Me identifiquei e perguntei o que faria com os pertences dele: — Ele disse: Jogue fora. — Eu disse a ele: Jamais, e se algum parente dele vier buscar? — Ele disse: Despacha a bagagem então. — Eu disse a ele: Também não farei isso porque ficaria caro. Não tenho dinheiro para isso.

Nesse intervalo, o delegado de Minas pegou o telefone, o mesmo que antes havia me interpelado, e disse: Junta estas tralhas aí, que daqui a dez minutos passamos para pegar. Fiz do jeito que ele mandou. Não demorou muito tempo, chegaram os três de Minas. Os três desceram do táxi rindo. Incomodado com o motivo de tanta graça, perguntei: — Por que vocês estão rindo tanto? — O delegado brincalhão me disse: Estamos rindo de você. — Perguntei: Por qual motivo? — O delegado, ainda rindo, me disse: Agora você pegou uma corzinha; no entanto, antes você ficou amarelo, o sangue da face sumiu, estava todo trêmulo. — Disse a ele: E era para menos. Isto nunca aconteceu comigo. De repente vejo minha casa invadida por policiais.

Aí ele me explicou tudo da forma que aconteceu. O Pregador foi liberado da penitenciária para uma cirurgia. Era para ele ter retornado para a prisão no dia 01/07/2021 e, desde então, estava foragido. Estávamos rastreando ele: vimos que ele ficou mais de seis meses em pousadas no Rio de Janeiro e depois alugou uma pousada aqui em Mucuri. Quando tivemos ciência que ele iria para Mucuri, fomos na frente para surpreendê-lo. Estávamos ficando frustrados, pois tínhamos rodado todos os hotéis e pousadas e não tínhamos encontrado. Por acaso estávamos no batalhão de polícia e um detetive viu ele passando com o senhor para comprar um marmitex no restaurante ao lado. A partir de então, ficamos rastreando ele, você e o seu inquilino para saber se vocês estariam envolvidos em algo.

Darei uma pausa para explicar o lance do marmitex. Era quarta-feira, por volta das 12 horas, quando o Pregador me perguntou onde tinha um restaurante. Eu disse a ele: Como estou folgado, irei contigo até o restaurante. Na rua Tocantins, próximo à minha rua, tem um restaurante. Fomos lá, achei estranho, o restaurante estava fechado. Até então, nunca tinha visto aquele restaurante fechado durante a semana. Lembrei que perto da clínica 24 horas tinha um restaurante. Também fomos lá e estava fechado. Estranhei os dois restaurantes fechados. Aí lembrei que do lado do batalhão tem uma panificadora e restaurante. Estávamos tão tranquilos que ele nem se incomodou com o batalhão.

Vamos dar mais uma pausa e contar-vos-ei algo muito engraçado sobre o inquilino que estava hospedado com a sua esposa. Toda pessoa presa tem direito a ligar para um parente informando a situação. Não sei se um dos detetives falou algo brincando ou seriamente. Ele virou para o inquilino e disse assim: O serial, ao ligar para a irmã dele, disse a ela que ele suspeitava que o inquilino que já estava na pousada foi quem dedurou ele. Gente, gente, para que o detetive falou isso. A paz do meu inquilino desapareceu. A partir de então, queria ir embora da pousada, com medo que os parentes fossem fazer alguma retaliação com ele. Dessa vez, quem ficou branco, amarelo, verde foi ele.

Chegou por volta das 20 horas e me despedi dele e vim para a casa da minha mãe. Ele disse assim: Não é possível que você vai nos deixar sozinhos nesta pousada. Aí ele falou que os parentes do Pregador poderiam ir à noite atrás dele. Disse a ele para tirar isso da cabeça, pois nada haveria de acontecer. Que Deus estava no controle. Não passou uma hora. Bateram no portão, fui lá olhar. Era o casal falando que não iria dormir lá sozinhos. Naquele momento, passamos um aperto, eles e eu. Eles porque estavam com medo da retaliação e eu fiquei apreensivo, porque não tinha contado para a minha mãe. Eles pediram para dormir no apartamento da minha mãe que estava vazio. Falei com eles: Vou liberar a chave para vocês; contudo, não façam nenhum barulho. E eles foram bastante obedientes. Fizeram do jeito que eu falei, eles não deram um pio sequer, rs. No outro dia, cedinho, eles voltaram para as quitinetes.

Vejam como Deus faz as coisas no lugar de ficar. Quando eles estavam na barraca, o detetive apareceu por lá para tomar uma loirinha. Foi então que o casal compartilhou com o detetive o receio que eles tiveram. O detetive falou a eles que poderiam ficar tranquilos na quitinete, pois a família do serial eram pessoas simples e agricultores. Só depois disso, eles se acalmaram e continuaram as suas férias. O detetive disse a eles, já que estávamos aqui, aproveitaremos esse dia para pegar uma prainha e à noite viajaremos para Minas.

Voltando ao delegado. A partir do momento que eles avistaram o Pregador, ficaram no seu encalço. Falaram que o Pregador tinha uma pena de 75 anos pelo assassinato de três pessoas. A forma como os assassinatos foram cometidos, poupar-vos-ei de tamanha atrocidade.

Quarenta e oito horas depois pegaram ele. Eles passaram para mim e para o inquilino todas as coordenadas de quem éramos, sabiam de tudo. Inclusive, na hora que eles estavam entrando no táxi com os pertences do Pregador, o detetive virou para mim e disse: Ah seu Gilson, se eu fosse o senhor, renovaria sua carteira de motorista, pois a mesma se encontra vencida. Uma coisa sei, diante de tudo isso, Deus estava nos guardando. Oro para que o Pregador, caso tenha cometido tudo isso, pague a sua sentença e que ele venha se arrepender e pedir perdão a Deus. Pois somente Ele tem o poder de tirar a vida de alguém.

Simplesmente Gilson
Enviado por Simplesmente Gilson em 03/01/2025
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