365 dias de saudades
365 dias sem o senhor, papai. Um ano inteiro de dor, luto e saudade. Parece que foi ontem, mas o tempo tem suas artimanhas, ora passa rápido, ora arrasta-se lentamente, conforme o peso das saudades.
Cada um desses dias foi um novo desafio, como se o coração tivesse que aprender, diariamente, a conviver com esse vazio que o senhor deixou. A ausência se faz presente em tudo: no silêncio da casa, nos instantes em que uma lembrança sua surge, seja das suas gargalhadas e brincadeiras com seus netos, no jogo de dominó com a criançada no alpendre; ou até mesmo no seu cantinho, onde o senhor adorava ficar sentado, tomando um cafezinho e assistindo....
Esse ano sem o senhor foi um exercício de aceitação. Entendi que as pessoas queridas nunca nos deixam por completo. Elas permanecem vivas nas lembranças, nos gestos que repetimos sem perceber, nas histórias que recontamos...
Durante esse ano, ouvi muito que o tempo é um remédio, que ele cura, contudo, ele também é traiçoeiro, porque, enquanto carrega as horas e os dias para longe, a saudade só parece aumentar.
Nestes 365 dias, houve momentos em que a saudade apertou tanto que parecia insuportável. Houve momentos que chorei de saudades, que as lembranças vieram com mais intensidade. Mas também houve momentos em que pude te sentir perto, em pequenas coisas (na brisa suave do amanhecer, nas estrelas que brilham no céu, na lembrança viva do suas risadas). A dor da saudade ainda aperta o peito, mas agora também aprendi a sorrir lembrando de tudo que vivemos. A dor já não é mais tão aguda como foi no começo, mas ainda está aqui, firme, como uma cicatriz que lembra que algo precioso foi perdido.
Um ano se passou, papai. Um ano de perguntas sem respostas, de noites insones, de lágrimas inesperadas e de um aprendizado doloroso sobre o que é viver sem o senhor.
A saudade será minha companheira daqui para frente, eu sei disso. Mas, aos poucos, vou aprendendo a conviver com ela. E, entre a dor e o luto, escolho guardar o amor e as lembranças que aquecem meu coração. Hoje, 365 dias depois, só posso te dizer uma coisa, papai: sinto sua falta todos os dias, e te amo para sempre.