O ordinário cotidiano
Apesar de estarmos na Primavera - estação muito linda, por sinal - temos provado de um calorão (de verão) precoce. Quem me conhece sabe que verão não é, nem de longe, a minha estação favorita. Descobri, nessa época, que tenho alergia a picadas de pernilongo.
Há poucos dias, ao acordar com uma delas, tomei as devidas providências; estas, no entanto, não foram suficientes. O que parecia uma simples picada, transformou-se numa grave inflamação, o que custou o consumo de medicações (injetáveis e orais) e repouso.
Não foram dias floridos, mas doloridos, aliás. Por graça de Deus, pude sarar-me, mesmo que eu prove, ainda, de uma dor no estômago pela quantidade de medicamentos.
Voltando aos poucos à minha rotina, enquanto seguia a vagarosos passos ao meu destino - à aula de um aluno -, repentinamente escutei um chamado: "moça, faz favor um pouquinho?". Procurei à minha volta e vi uma senhora, sentada numa cadeira de rodas, com os braços estendidos "moça, venha aqui, por favor?!".
Assustada com o acontecimento inesperado, eu, como boa fleumática, demorei alguns minutos até processar o que sucedia. Compadecida com a senhorinha, cheguei até ao seu portão. Ela me pediu que ligasse ao táxi para buscá-la, e assim o fiz. Quando terminamos seu pedido, agradeceu-me incansavelmente: "Deus te abençoe, minha filha, eu sabia que você era uma pessoa boa, porque Deus me falou pra te pedir ajuda porque você é uma boa pessoa!"
Agradeci acanhada, embora feliz pelas cordiais palavras da mulher. Meu estômago, que antes do episódio doía num pequeninho grau, deixou de doer. Lembrei-me, então, de uma frase assistida no filme Forja. "Você precisa ser mais fonte e menos dreno; dar mais do que recebe". É mais feliz aquele que ajuda do que aquele que é ajudado.
Mesmo a minha atitude sendo um simples e ordinário gesto cotidiano, este ajudou aquela senhora; "você me ajudou muito, não sabe o quanto!", disse-me ela. Como tenho ouvido - e tentado adotar, confesso - desde a pandemia, é no ordinário cotidiano que se esconde o extraordinário de Deus; afinal, nada é pequeno, se feito com amor.