Ladainha
Xiiiiii, começou o som chato do vizinho. Se pelo menos fosse alguma melodia suave que agradasse à minha audição... Para não faltar com o respeito para com os leitores, direi: gosto é como cabeça, cada um tem a sua. Uns gostam do olho e outros da remela.
Ainda em relação a isso, quero testemunhar-lhes algo. Em junho deste ano, completaram-se dez anos que moramos aqui em Mucuri. O som do vizinho é antigo. No início, foi muito difícil. Minha esposa se enervava constantemente. Foi então que tive uma brilhante ideia. Comecei a orar para que Deus pifasse o som dele ou nos desse outra alternativa. Nas minhas orações, cheguei a comentar com Deus a possibilidade de termos outro lugar, mesmo que pequeno, para nos refugiarmos do barulho.
Na época, minha mãe nem conhecia a nossa cidade. Entretanto, os tempos passaram e, hoje, dona Nilda, minha adorável mãe, mora aqui conosco. Agora mesmo, quando começou a ladainha, ela foi logo vazando para a casa da Mainha, rs. Engraçado que, há pouco tempo, me dei conta de que isso foi resposta de oração, rs.
Hoje, pelo terceiro dia consecutivo, está chovendo em Mucuri. Estou até admirado. Isso não quer dizer que aqui não chova. Chove muito, porém chuvas espaçadas e, principalmente, de madrugada. Enquanto ela cai, vou apreciando-a pela janela.
Gilmar, meu amigo, eu não fiz a crônica sobre aquele assunto que comentamos. A sua teoria é a mais comentada, no entanto, existe também muita controvérsia sobre a sua veracidade. Enquanto eu pesquisava sobre o seu assunto, vi algo que achei muito curioso. Se colocássemos todas as formigas numa balança, o peso delas poderia equivaler à soma de todos os seres humanos existentes no planeta. Somos aproximadamente quase oito bilhões de habitantes, ao passo que as formigas chegam a dez mil trilhões.
Meus queridos leitores, peço-vos desculpas, porque, quando a amada Inspiração resolve bater perna, encho-vos de abobrinhas. Todavia, a escrita é um exercício como qualquer outro. Tudo nesta vida exige constância se visamos à perfeição. Embora jamais a alcancemos — perfeito somente Deus —, ela deve ser sempre a nossa meta. E assim como o oxigênio é imprescindível para a vida humana, assim é a escrita para o meu ser. Isso é algo imensamente salutar para mim. Mesmo após longas décadas, me sinto como aquele aluno que está aprendendo o beabá.
Hoje, comecei a ler o livro de contos de Machado de Assis, cujo título é "Páginas Recolhidas", editado em 1899. Este livro possui dezoito contos. Neste momento, terminei de ler "O Caso da Vara", que conta a história de Damião, o seminarista que foge do seminário por entender que não tem vocação para ser padre. Tomei a decisão de ler tudo que Machado escreveu por dois motivos. O primeiro é que ele é um dos três escritores brasileiros que tenho como favoritos, ao lado de José de Alencar e Jorge Amado. Já li quase todos os romances que ele escreveu, com exceção de "Casa Velha" e "Memorial de Aires". O outro motivo é que, vendo uns vídeos sobre escrita na internet, a palestrante afirmou que Machado de Assis é o autor, entre os brasileiros, que mais obedece às regras de pontuação, usando e abusando das mesmas. Se continuo a lê-lo, quem sabe eu aprenda com ele, rs.
Neste instante, está estiado. Gosto desse tempo. Graças a Deus, este ano o pé de manga resolveu dar frutos. Está carregado. Já estava com saudades disso. Devem fazer uns cinco anos que dava somente flores, mas frutos que é bom, nada. Alguém me sugeriu bater o facão no tronco. Será que isso deu resultado? Se foi ou não, o importante é que ele frutificou.
O ar ainda úmido, o sabiá cantando no quintal. Se não fosse pelo seu canto, eu daria um jeito de correr com ele daqui, está enchendo o carro de titica, cagão. O cardeal ressurgiu, tem tempo que ele desapareceu. O vento, timidamente, roça as árvores. Diante deste cenário, como pode haver malucos que insistem em dizer que Deus não existe? Para esses ateus, encerrarei com uma passagem no livro de Habacuque, capítulo 3, versos 17 e 18: “Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimentos; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu me alegro no Senhor, exulto no Deus da minha salvação.”