Alzheimer
No começo soava algo engraçado, os pequenos esquecimentos, as trocas de nomes, pequenas confusões momentâneas. Mas, tão logo, viu-se que aquele fato isolado e engraçado tinha tomado proporções bem maiores: esquecer o fogo aceso com frequência, esquecer o nome dos filhos, esquecer onde guardou tais objetos, perder a noção de tempo (noite, dia, hora, mês), esquecer como pentear o cabelo, como sentar, tomar banho, abrir a porta...
As confusões mentais começaram a vir com mais frequência, esquecendo-se de sua identidade, de fases já vivenciadas; outras vezes estacionando em determinada fase já vivida há muito tempo, gerando confusão, medo e angústia, por não encontrar mais a tal realidade. A angústia é ainda maior quando não consegue contar casos vividos, quando não consegue formar frases coerentes ou até mesmo uma simples palavra.
Tentando entender essa situação, procuramos um médico, até que o diagnóstico chegou: "alzheimer" . A partir desse dia tivemos que aprender a lidar com cada situação, cada angústia, medo, esquecimento. Tivemos que aprender a conduzir cada lapso de memória, de modo que a deixasse mais confortável e segura, e até hoje seguimos, perseverantes, de mãos dadas com ela, ajudando-a nessa nova realidade, na realidade de conviver com alzheimer, horas lembrando com mais clareza, horas esquecendo quase tudo; contudo, agradecemos a Deus, por ela ainda ter lindas lembranças de infância e juventude, ainda conseguir lembrar os nossos nomes. Por vezes essas lembranças ascilam, mas rendemos graças por tê-la conosco e podermos estar ao lado dela nessa fase tão delicada. Amo-te incondicionalmente, vó e estarei sempre aqui com a senhora, eu e você e nossas longas conversas (que escuto três, quatro vezes ao dia, mas que sempre demonstro entusiasmo e alegria em ouvir, como se fosse a primeira vez que escuto, assim como pra senhora é como se fosse a primeira vez que me conta).