DIA DOS PAIS

Resolvi, há poucos anos, realizar ligeira pesquisa sobre a origem do Dia dos Pais. Descobri, surpreso, que, nos Estados Unidos da América, ele foi instituído pelo Presidente Richard Nixon, em 1972. Maior foi meu espanto ao verificar que, no Brasil, a data foi sacramentada em agosto de 1953, quando entidades da imprensa homenagearam três tipos de pais: com maior número de filhos (venceu o que tinha 31), o mais jovem (venceu o que tinha 16 anos) e o mais velho (com 98 anos). Há relatos que atribuem a Roberto Marinho a instituição da data no Brasil, o que não é de se duvidar, por que decorreu de lance promocional de organizações de imprensa. Na verdade, não me lembro de qualquer movimentação especial pela data quando era pequeno, portanto, meu pai, só mais veterano é que passou a receber as homenagens devidas. Creio que ele recebia meias, cintos, camisas e loção pós-barba. As datas originariamente comerciais levam alguns anos para adquirirem significação afetiva importante e os presentes sempre muito singelos. Embora não seja uma data tão impactante quanto o Dia das Mães, aqui no Brasil, relembro o carinho e os gestos de afeição de meus filhos pequenos, com seus cartões, cartinhas, desenhos e presentinhos escondidos para a hora “H”. Na era das creches, ficavam ainda mais engraçados e criativos. Estes momentos grandiosos eu não tive com meu pai. Não é queixa, afinal, faz muito tempo e, por formação cultural, não tenho certeza de que ele usufruiria tanto quanto eu pude fazê-lo com meus rebentos dos anos setenta. Dia dos Pais tem de ser com criança. É algo assim como o Natal, meio sem graça quando não há pequenos. Papai Noel tem a ver com fantasia, expectativa e ingenuidade. Por sorte, no ciclo da vida, temos geralmente os netos, ou quaisquer outros pequenos encantadores, e a magia recomeça. Não basta que os filhos telefonem, visitem, comprem um presente, façam um suculento churrasco ou almoço. Claro, é muito, muito bom - sempre é bom - mas nada é mais lindo do que a afeição genuína da criança querendo agradar com aquele cartão rabiscado, rico em erros de ortografia e declarações de amor impagáveis.

Não vai mais acontecer? Paciência, vale a memória. E aos pais que já nos deixaram, a homenagem especial e a recordação dos melhores momentos de estímulo, proteção, orientação e apoio que só um pai pode dar, além do exemplo. Qualquer data, todo pretexto, vale quando nos remete às melhores memórias e aos mais fortes sentimentos que nutrem a alma do homem sobre a terra. É um tanto estranho, mas somos todos independentes, às vezes egoístas, apressados ou relativamente distantes dos pais que estão vivos. Quando nos faltam, vamos, pouco a pouco, descobrindo o quanto devemos a eles, o quanto nos fazem falta, que conforto fundamental significava em nossos vacilos, delírios e feitos pouco exitosos. A rigor, não há o que supra este vazio. A gente pode até fazer cara feia, mas palavra de pai é mágica, seja pai biológico ou de coração. Seguidamente, trata-se de uma revelação tardia, quando nunca imaginaríamos fosse necessário ainda tal respaldo. Daí, ficamos à cata de lembranças, registros, fotografias, depoimentos esparsos e imprecisos. E tentamos recuperar um pouco disto tudo revivendo os anos mais tenros. É o ciclo da vida.