Com açúcar, com afeto
Estamos a dois dias do Dia dos Pais. Dois? Ou será três? Sei lá, nunca fui boa em matemática. As letras sempre (e mais) me agradaram. Não desgosto dos números, apenas não tenho habilidade com eles.
Fato é que no domingo próximo, celebraremos essa data tão especial. O dia, sabemos, na verdade, são todos eles. No entanto, não tem por que não comemorar.
Para meu aborrecimento, não tenho mais meu bom velhinho ao meu lado. Por mais que seja doído, há uma alegria em mim (em nós, nos meus irmãos também): tivemos um superpai, um herói, uma figura que modificou e significou toda nossa existência.
Dia desses, recordando uma de nossas vivências, lembrei-me de uma situação. Era uma manhã corriqueira, nada diferente da trivialidade que vivíamos. Ao realizar a rotina matinal, nossa conversa (ah, quanta falta sinto das nossas conversas!) teve como pauta "interpretação de texto".
Compartilhávamos do mesmo gosto: as letras e canções. Dizíamos, naquele dia, quão fascinante era saber interpretar um texto, uma música, uma reflexão. "Só professor de português para conseguir essa proeza", ele me disse.
Veio à minha mente a infância e a adolescência, quando eu também ficava embevecida com a capacidade que tinham os mestres em interpretar aquelas entrelinhas.
Rodeada de um universo encantador, cujas conversas penetravam surdamente no reino das palavras, além da presença assídua de literatura no meu mundinho, não poderia ser diferente: apaixonei-me perdidamente pelos verbetes e comunicação, em especial a escrita.
Talvez por isso, na minha audácia pouco explorada, quase inexistente, vez ou outra eu ousava ler e compreender alguns textos: as canções de Chico, as tão encantadoras e românticas de Roberto, as do Cartola, os sonetos de Camões e Vinícius... Universos a serem explorados nunca faltaram.
Num momento oportuno, adotei a escrita como confidência, linguagem do amor, intermédio da minha existência. Mergulhei alegre e profundamente nesse mar infinito.
Entre cartas, dedicatórias, conversas e lembranças, segui o caminho das letras; a passos vagarosos e olhar atento, as estradas se renovam todos os dias. Apoiadas em versos, declarações, constatações e poesias, as histórias vão sendo contadas e construídas com açúcar e com afeto.