Entre feia ou bonita, a mesma sociedade - BVIW

Um dia ouvi uma pergunta que nunca esqueci: “como aguenta conviver nesta cidade com tantos desrespeitos à infância e adolescência?”. Vinda de uma jornalista estrangeira, a abordagem foi feita enquanto um gringo passava ao lado de uma menina negra, subnutrida, de pouca idade.

A jornalista se referia também à POBREZA que viu nos poucos dias em que esteve na cidade, aos casos relatados de VIOLÊNCIA e ESTUPRO, aos pais e mães que, sem suporte para o acesso a emprego e renda, afundavam no ALCOOLISMO.

A pergunta martelava em busca de soluções para o que seria este LADO FEIO DA CIDADE. Dias depois, ao ouvir um jovem explicando que não se falava mais PIXAÇÃO e sim grafitagem, porque era uma arte, uma manifestação, fiquei pensando se faz sentido pensar em lados feios. Se isso não é colocar ainda mais peso em quem já carrega tantos nãos.

Quando se pensa que há um lado feio, acaba sendo omitido que, na verdade, há uma sociedade inteira adoecida. A mesma que não consegue responder à pergunta da jornalista, porque não se vê parte dela.

Feio é não querer enxergar que integramos todos uma só cidade, e que os números negativos fazem parte da mesma cidade, independentemente de onde se mora.

Uma cidade tem ângulos, de diferentes formatos, e estes são moldados inclusive pelo que fazemos de conta que não é da nossa conta.

Ana Márcia Diógenes
Enviado por Ana Márcia Diógenes em 07/08/2024
Código do texto: T8123706
Classificação de conteúdo: seguro