O Dia dos Escritores
Me proponho aqui a ousadia de falar de um tão esquecido, porém, aos aficionados pela arte das palavras, amado dia que celebramos hoje; Vinte e cinco de Julho. É dia daqueles que, em meio a tantas coisas ditas “mais interessantes” por esta geração, ainda se atrevem ao aventurar pelos antigos mares de letras e fantasias, poemas e sonetos, romances e crônicas, e todas as demais formas majestosas que a literatura toma, para então trazer à realidade os tão longínquos sonhos que a humanidade possui. E neste dia – guarde este segredinho entre nós – todos eles se juntam numa confraternização.
Em meio ao esquecimento, o tal trabalhador se coloca num estado de hipnose, desenhando com suas letras a musa que vem em mente. Cada junção de letras forma a palavra que descreve a silhueta de uma formosa dama – uma então Mona Lisa lírica. Este é o (ou a) escritor(a), um ser bem estranho, não? Mas deixe que eu esqueça a romantização e diga: combinava-se então o piquenique num jardim florido com mesas, estantes com livros – pois que lá nunca chovia e o Sol era carinhoso – árvores belíssimas, um pequeno lago ao centro e penas requintadas seguidas de potinhos de tinta – Bem vindos ao céu dos escritores!
Tanto antigo quanto o atual, um determinado proletário das canetas e teclas, põe-se ao despejar sentimentos de amores, de dores, de inspirares, de temores. De início era rimado e ritmado, depois foi se adequando à linguagem popular e caindo nas facilidades do povo – lindos versos livres, expressivos; longe disso ter feito perder charme, jamais! O que vem acessível é democrático! Deus salve o poeta! Este senta-se embaixo de uma árvore à observar uma linda mulher. Ao canto, perto de uma fonte, num pequeno banquinho era possível ver Carlos Drummond de Andrade trocando suas ideias com Olavo Bilac e Manuel Bandeira – queria eu saber o que falava-se por lá.
De praxe, no canto estava Edgar Allan Poe com um corvo ao braço; embora pareça ser uma pessoa de poucas amizades, ouço dizer que isto é apenas aparência.
Também vinham os prosadores com suas histórias e seu encantador jeito de contá-las; todos riam, despejavam alegria para quem quer que fosse ler. Alguns proclamavam notícias, mas era um dia lindo e sendo assim, poupava-se os ouvidos dos tristes acontecimentos, só havia espaço para coisas boas. Acho que por ali encontro João do Rio tendo seu momento literário com Coelho Neto, Lima Campos, João Ribeiro, D. Júlia e seu marido, entre outros...
Os cronistas, sentados nos banquinhos de madeira, já contavam suas histórias cotidianas sobre vergonhas, risos, amores passados; cada qual daria um livro inteiro – a experiência da vida é algo magnífico e os cronistas são artesãos especializados em lapidar obras de memórias do dia a dia. Bem no centro, em uma mesinha cercada de pessoas, estava Rubem Braga proseando sobre sua infância em Cachoeiro e segurando uma gaiola de passarinho; quem sabe coleiro, quem sabe sabiá, pois que independente se coleiro ou sabiá, sabíamos que esta sabia assobiar – e como assobiava o bichinho. Falando em sabiá, lá vai Gonçalves Dias olhando a gaiola nas mãos de Rubem Braga, talvez teremos briga...
Olhe lá quem vem! chegam então os romancistas! Oh, seres inspirados; sentando lado a lado numa mesa daquelas amadeiradas que se encontram nos parques. Estes carregavam pilhas de folhas com diversas histórias contando sobre tudo! Com estes ninguém se cansaria do mundo, pois na mente de cada um existem vários universos inteiros.
Olhando melhor agora, veja comigo ali na frente; tem alguém de óculos e barba observando passarinhos e conversando alegremente. Ora se não é Machado de Assis! Bem devia saber eu que este não faltaria o piquenique. Junto a ele, parece que vejo José de Alencar com sua barba respeitável. Talvez estejam falando sobre teatro porque política foi jogada fora aqui no céu dos escritores.
Logo do outro lado, vejamos as musas, Virginia Woolf, Clarice Lispector e… Mais surpresas! não é Shakespeare ao lado das moças? Invejo este aí, imagine só que encontro!
Nos apressemos antes que reparem, vamos caminhando e... olhe logo ali! George Orwell ao lado de Isaac Asimov – que segue com um robozinho em mãos – discutindo, quem sabe, os rumos do mundo. E se falamos de mundo, vemos então C.S. Lewis juntamente de Tolkien; aparentemente estão se propondo a mais um desafio literário daqueles que trazem calos à escrita e pérolas ao mundo, esperemos novas obras primas ansiosamente!
Falei de piquenique, mas o que se devora mesmo aqui são livros e histórias compartilhadas por autores. Inclusive, compartilho a minha contigo nesta despretensiosa crônica – ambiguamente com grandes nomes, então cheia de pretensão.
Aqui amigo, terá de me desculpar pois deixarei de forma egoísta sua valiosa presença. Tente entender, ora, o local que nos encontramos é tão rico de personalidades que a minha logo se ofusca. Tenho que correr para, me espremendo entre tantos, ousar ouvir conversas interessantes; mas peço que não se acanhe! Olhe ao redor deste jardim lindo com este piquenique e deixe sua imaginação construir e correr. Dê vida aos demais escritores que não me recordei nesta crônica tão corrida que faço ao final do ilustre dia e torne-se também um escritor. Logo mais nos encontraremos em outras histórias, pois somos assim, não? Mergulhamos em nossos mundos, mas também exploramos os dos outros! Que seja para todos, um ótimo dia do escritor!
25 de Julho – Dia dos Escritores