A política regional e a condição humana
A política surge na Antiguidade, especialmente em Antenas, na Grécia, com sentido de bem comum e melhor convivência entre os cidadãos. Nesse sentido, política era entendida como gerência da pólis, da Cidade-Estado.
No Brasil, desde sempre, o que temos é a politicagem. E o que é politicagem!? É quando interesses individuais ou de determinados grupos prevalecem sobre a coletividade. Aqui, reina os conchavos ordinários, a troca de favores, os acordos escusos, a venda de votos, a troca de apoio político por benesses, cargos e dinheiro.
A política local, especialmente na minha cidade, Cabo Frio, é a face da degeneração. É o averso do averso. É o egoísmo travestido de sociabilidade. É o faz de conta que se governa e legisla para o bem da população, quando na verdade é para o bem pessoal e privado.
Aqui, não se tem partido, ideologia e pensamento a favor do todo; aqui, prevalece a máxima da canalhice: "A farinha é pouca, meu pirão primeiro".
Cabo Frio e Região dos Lagos são o retrato do Brasil, ou são o nosso país em miniatura. Às mesmas práticas degeneradas são comuns em toda a nação.
Às pessoas apoiam determinado político ou grupo, não porque se identificaram com suas propostas ou plano de governo em favor da coletividade, mas porque se recebeu uma promessa de emprego, porque ganhou uma portaria ou material de construção, ou ainda, conseguiu furar a fila de um exame médico ou de uma cirurgia.
Gente que fazia discurso contra determinado político, virou a casaca em tempo recorde e agora bajula, puxa saco e enaltece o outrora objetivo das suas críticas e censura.
Infelizmente, essa prática comum e generalizada demonstra não só o funcionamento imoral da nossa política, mas, sobretudo, a condição humana. Poucos são aqueles que transcendem o egoísmo, a mediocridade e a pequenez da nossa espécie.
Nesse jogo da imoralidade e da desfaçatez sou carta fora do baralho. Não participo, não apoio, não aceito cargos e quaisquer outros benefícios. Todavia, não sou apolítico, sou anti-politicagem.
Sou averso à politicagem, pois ainda acredito no ideal utópico dos gregos, que a política deve ser praticada para o bem de toda a sociedade. Que a coletividade está acima da individualidade. Que o bem social é infinitamente mais nobre que o bem pessoal. Que deve-se votar em projetos, de acordo com a consciência, não em pessoas e grupos de aproveitadores e usurpadores do Estado.
Também entendo que os mais canalhas dentre os canalhas da política são aqueles que usam o nome de Deus, que falam como representantes de determinada religião, que citam passagens bíblicas para angariar votos. Só em ouvir na campanha que fulano é um representante de determinada igreja ou credo, eu já sei que é o demônio disfarçado de anjo de luz.
Sei que é difícil resistir a tantas promessas e benefícios no período eleitoral. Mas resista em nome da sua dignidade e como aprimoramento da espécie humana. Em meio ao caos moral e da falência de princípios éticos, não sucumbir é a mais expressiva forma de resistência.