Voltando à cidade
A volta para um ambiente que contrasta ao seu dia a dia sempre trás aquele baque – um choque de perspectivas. Foi justamente o que me acometeu. Num final de semana em que decidi que viajaria novamente para Vila Velha – isto após dois longos anos na zona rural do Espírito Santo – não pensei que existiria tanta divergência em minha mente.
Devo dizer, quando se é pequeno, nossas perspectivas são grandemente afetadas criando ilusões que pintam cenários diversos e ocultam a realidade; talvez, a mudança de percepção foi grande fruto da minha maturidade. Longe de dizer que Vitória, Vila Velha e demais regiões são ambientes horríveis, o que me veio a mente, em verdade, foi pelo contrário: uma sensação de dualidade.
Das minhas terrinhas rurais até a zona urbana do Espírito Santo, o que primeiro se vê é Vitória – beira ao filosófico. E com minha mente um pouco mais aberta ao ambiente, consegui capturar recortes de contrastes da sociedade. A dualidade, como um preto e branco, entre os mais ricos e os mais pobres, deixando o cenário divido para quem vê mais do que os olhos enxergam, propagava-me uma inspiração sobre coisas que já deveria maquinar em mente para trazer em escrita.
Mas longe de fazer demagogia apoiando X ou Y ideologias, eu estava ali como mero e sincero espectador da cidade. Enquanto antes – quando morava por ali – era eu quem proseava para com o ambiente, desta vez foi o ambiente que se colocou ao prosear comigo. Era como se ele quisesse me contar as histórias que ali existiram, como se quisesse remontar o cenário que eu conhecia. Era algo que, se antes eu não estaria pronto para entender, agora estava; e assim foi.
Mais do que viagem, senti-me como num estudo para armazenar inspirações sobre o que escrever. Embora como escrita produzida no Espirito Santo, fizesse mais sentido ser lida para então ser compreendida pelos capixabas, infelizmente me deparei à mercê de uma realidade que então se fazia desconhecida para mim. Existem muitos talentos em meu amado estado, mas que nós mesmos não compartilhamos, não nos movemos. O governo também não trabalha para o acolher das sementes que poderiam virar árvores incrivelmente frutíferas, logo existe uma sensação de estar “estagnado”. Como outras vivências me demonstraram, para o capixaba, infelizmente é preciso buscar reconhecimento fora do próprio estado antes de se fazer conhecido em seu mesmo; uma triste realidade, pois é um trabalho dobrado.
Enfim, deixarei as próximas palavras para as inspirações que me vierem futuramente. Porém, que o ofício do escritor não se faz apenas com inspiração, mas cortando sua própria carne para assim, então, jorrar inspiração; logo, devo me apressar para escrever meus próximos materiais. É bom estar de volta ao velho tecladinho.
17 de Julho de 2024
Marcelo Di Gabriel