Invisíveis
Viver com dignidade deve ser um direito e um dever do Estado, da família e das instituições” tão bonito no papel
Nada mais triste do que ver pessoas dormindo debaixo de marquises.
Nada degrada mais a condição humana do que estar nessa situação. Todavia, esta é uma cena recorrente em todas as cidades e na nossa Campina Grande não poderia ser diferente. Quase todos os dias vou ao correio, fico triste e indignada quando vejo um casal dormindo enrolado em trapos em um degrau que não tem nem 50 cms de largura na antiga faculdade de administração.
E os dois lá, deitados, a cabeça de um, ao lado dos pés do outro.
Os invisíveis.
Ninguém os vê. Fico desolada e lastimo pela minha impotência.
Como é possível que numa cidade como a nossa que possui inúmeras casas de abrigo para idosos e vulneráveis, as pessoas fiquem assim abandonadas pelas calçadas, sem comida, sem agasalho, sem um pingo de conforto humano? Até quando essas pessoas ficarão largadas à própria sorte sem que os poderes públicos tomem providências mais efetivas?
Ser invisível aos olhos dos outros é muito triste e é por isso que me senti no dever de escrever esse texto usando o meio que tenho, a palavra - dando voz a esses invisíveis que perambulam pelas ruas de nossa cidade enfrentando esse frio de doer nos ossos que tomou conta de Campina como havia anos não sentíamos.
Rezo para que esse inverno acabe logo, e que essas pessoas encontrem outras que lhes possam proporcionar uma vida com dignidade que é bom mínimo que elas merecem.