OS ACADÊMICOS DO BAR DO CHICO BIU
“Fragilidade, teu nome é mulher.” Foi o que sussurrou Zé do peixe quando viu passar uma jovem, vindo, ou indo, para uma academia, a julgar pela roupa. Completando a mesa estava Meota, Paciência e Natureza com uma sanfona velha, mas choradeira para danado.
E tu agora é poeta, Zé? ─ Diz Natureza já pegando o perfume do mote e dedilhando a introdução de Mulher Nova, Bonita e Carinhosa, que fez sucesso na voz de Amelinha, mas que Zé Ramalho, ali do Brejo do Cruz, também eternizou.
Natureza explicou para gente que aquilo era Shakespeare. “Um dra-Ma-tur-go do Qui-nhe-TIS-mo.” Co-nhe-CI-do pela his-TÓ-ria de Ro-MEU e Ju-li Ê-ta,Rei LEAR e SO-nho de uma NOI- te de veRÃO. E já emendou a cantar a música que dedilhava. Seu Natureza lembra o cantador Oliveira de Panelas. Tem aquela voz estridente de trovão. Aquela voz de quem fala e que quer ter certeza de que será ouvido.
A música termina e Paciência chama a atenção de Zé dizendo que ele estava mentindo ao falar que a fragilidade tem nome de mulher. “Acabamos de ouvir agora que meio mundo entrou numa luta por causa de uma donzela. O Menelau levou uma cangaia e saiu chorando querendo matar Páris. No canto, Meota concordava. “É mesmo, isso tá no Novo Testamento.”
E continuou Paciência, “Quem dobrou a brabeza de Lampião? E quem descobriu o segredo de Sansão, e da maçã, quem foi a primeira a pôr a mão e depois dá-la ao homem? E quem salvou os dois espias de Josué, se não foi Raab, uma prostituta que está nos rol das ascendentes de Cristo.” E a cada manifestação de Paciência, Meota arrematava: “É mesmo, isso tá no Novo Testamento.”
“A beleza da mulher não tem idade! O que então dizer do Rei que pretendia dormir com Sara, tendo ela mais de 90 anos? E Jacó que pegou gato por lebre, como se o amor fosse um armazém, queria Raquel e deram Lia, e de quebra mais duas concubinas, só de filho o homi teve mais de cem. Paciência olhou para o lado, esperando a concordância de Meota, mas esse deu uma cochilada, a deixa ficou com Natureza e sua sanfona: “É MES-mo, isso tá es-CRI-to no NOvo tes-ta-MEN-to.”