GRAVANDO...
Você alguma vez já gravou uma música em uma fita cassete? Se lembra como era? Se não, vou te contar:
Minha história com as fitas cassetes começou quando em um determinado natal ganhei do meu pai um gravador e três fitas, duas gravadas e uma virgem. Meu velho com muito carinho arrumou alguns vinis e foi até a casa da minha tia e lá ficou por horas gravando fazendo a seleção das músicas que eu gostava. Uma linda demonstração de afeto. Colocava o aparelho em frente à radiola Philips portátil amarela e a mágica acontecia.
Depois disso peguei gosto pela coisa, por muitas vezes gravei. Depois de algum tempo adquiri um rádio gravador onde podia gravar diretamente do rádio.
Na época das composições musicais e dos festivais e e meu amigo Maurício gravávamos as músicas, eu fazia a letra, ele colocava a melodia, depois tocava ao violão e gravava na fitinha, tentando lutar contra um turbilhão de ruídos invasores que queriam também participar da gravação.
E por muitas vezes combinava com um colega que tinha outro aparelho parecido e colocávamos os dois lado a lado. De fita para fita. Mas não se podia dar nem um pio, e naquela hora surgiam também os ruídos invasores, barulho de todos os lados, cachorros latindo na rua, caminhão da pamonha que passava, alguém batia a campainha na hora exata. Era uma “luita.”
Depois quando comprei um aparelho de três em um ficou bem mais fácil. Podia gravar do disco e então saía pedindo discos emprestados a todo mundo para fazer minhas belas seleções.
Também era prazeroso pedir a música na rádio. Existia ali todo um ritual, ligar para a emissora, pedir para tocarem a música, esperar o momento certo. Ficar esperto na hora de apertar a tecla, torcer para tudo dar certo, a rádio não sair do ar, não faltar energia elétrica, não chegar visitas na hora nem acontecer nada que atrapalhasse. E eis que o locutor inventava de falar no meio da música bagunçando a coisa. Dessa época destaco um programa que existia na rádio Montense fm de Santo Antônio do Monte MG que se chamava grave sertanejo, (sempre gostei muito de música sertaneja) uma hora de músicas sem intervalos nem interrupções. Os safados dos locutores eram proibidos de falar, amordaçados num cantinho qualquer do estúdio. Era bom demais. Gravei muitas edições desse programa.
Mas era um grande prazer o ritual, a espera, a expectativa. Você planejava se dedicava àquilo. E depois o prêmio de poder ouvir sua música preferida na hora que você quisesse. Coisa rara. Você buscava aquilo e conseguia. Que época maravilhosa!
Acho que a prática nos ensinava a ir atrás do que queríamos, a lutar e buscar o que era almejado tal qual o esforço para se apanhar uma fruta em um galho alto de uma árvore. A gente planejava, cinzelada aquilo, depois com um sorriso de realização visualizávamos aquela música tocando enquanto víamos as rodinhas internas do deck que faziam girar a fita rodando sem parar e o som saindo das caixas com a melodia bonita que era repetida pela voz desafinada. Ufa! Finalmente a canção... Era um ritual de sacrifícios e prazeres.
Ainda tenho muitas fitas lá em casa, algumas gravadas outras compradas, não as ouço mais porque os aparelhos já não funcionam. Ficam como relíquias de uma época maravilhosa. Jamais esquecerei o gostoso ritual da gravação.
Hoje tudo ficou mais difícil. Você tem o trabalho de abrir o celular, abrir o app. do youtube spot file ou outro entre os milhares, digitar a música que você quer ouvir e que lá está disponível a qualquer hora. Que trabalheira! Tudo ficou bem mais difícil. Concorda caro leitor?