Assim foi o Tour Histórico em São Pedro da Aldeia, no dia do padroeiro da cidade...

Para desenvolver o meu trabalho de turismo Histórico-Cultural e Pedagógico, faço 33 trilhas de ecoturismo e 18 Roteiros Históricos nas cidades da Região dos Lagos e na capital do Estado. São pontos e espaços turísticos que selecionei, minuciosamente, para levar os grupos interessados e, em cada oportunidade, ministro aulas identificando os principais pontos em cada local visitado.

O Tour mais emocionante que eu realizo sempre foi o da região portuária do Rio de Janeiro, a chamada "Pequena África", por sua história marcante sobre a escravidão, tráfico de escravizados e a perseguição ao povo preto e à sua cultura. Esse é um Tour imperdível!

Aqui, na Região dos Lagos, a grande maioria dos meus roteiros históricos são realizados na cidade de Cabo Frio por ser uma das cidades mais antigas do Brasil e, em Búzios, por conta da sua beleza ímpar e sua história envolvendo o primitivo tráfico de escravizados; o Balneário até possui a única praia do mundo com nome de um traficante de escravos, a linda Praia de José Gonçalves.

Já Arraial do Cabo é o meu local predileto para realização de trilhas de ecoturismo e caminhadas ecológicas.

Mas, eu decidi fazer um Tour histórico em São Pedro da Aldeia. Comprei livros, pedi ajuda ao amigo Davi Monteiro – grande especialista da história aldeense –, contactei os escritores Geraldo Ferreira e Jacy Mattos, e comecei a planejar a expedição na antiga Aldeia de Índios dos padres Jesuítas.

Depois da pesquisa realizada, escolhi, como locais de visitação, a magnífica Casa da Flor, o Museu da Aviação na Base Aérea Naval, o Museu Regional do Sal e o Centro Histórico do município, com suas imponentes igrejas: a Matriz Jesuíta antiga e a nova Matriz de São Pedro, na praça central do município.

Para minha surpresa e de todos os participantes, foi um Tour Histórico cheio de grande emoção, a começar pela Casa da Flor: só em ver o senhor Valdevir Soares, com 82 anos, narrar, com tanto amor e entusiasmo, a história de seu Tio, Gabriel dos Santos, o construtor da casa foi extraordinário! Ainda mais, por saber que ele cuidou do seu Gabriel até sua morte, aos 93 anos de idade. Deu para ver os olhos marejados de muitos participantes e o meu, obviamente. Minha esposa não se conteve e foi às lágrimas.

Ao sair da Casa da Flor fomos até o Museu da Aviação. Muitos de nós não tínhamos visto aeronaves tão próximas, nem tínhamos entrado em helicópteros. Nessa visita pudemos adentrá-los e conhecer muito da História da Aviação Naval do Brasil. Que momento enriquecedor! Foi emocionante ver uma ala do museu homenageando os mortos em acidentes aeroviários e peças de aeronaves que tiveram um triste fim! A Base Aéreo Naval de São Pedro da Aldeia está de parabéns pela grande iniciativa de criar um Museu da Aviação e mantê-lo aberto ao público geral e às escolas!

Neste local falamos, rapidamente, sobre a construção da Base Aéreo Naval, que teve início em 1958. Também falamos sobre a polêmica do processo de indenização de fazendeiros e donos de sítios que foram obrigados a saírem das terras para implantarem a Base.

Ao sairmos da área militar, nos dirigimos ao Centro Histórico do município, onde falei da história da CIA de Jesus, os jesuítas, aqueles que receberam as terras do Aldeamento do São Pedro do Cabo Frio, do capitão-mor Estevão Gomes, em 1617, e, neste ambiente, o amigo Davi Monteiro contou a História das duas igrejas e do cemitério da Ordem do Santíssimo Sacramento. Também falamos do Canhão de São Pedro da Aldeia, que é original da cidade, não sendo do Forte São Mateus, como muitos afirmam, mas ele ficava na Ponta da Peça, uma ponta lagunar próxima a atual Praia do Sudoeste e, então, tecemos comentários sobre outras peças de artilharia que ficavam em locais estratégicos, como auxiliares do Forte São Mateus de Cabo Frio como a Luneta do Sururu, de Arraial do Cabo.

Tanto a cidade de Cabo Frio, que é de 1615, como o Aldeamento do São Pedro do Cabo Frio – nome original da atual cidade de São Pedro da Aldeia –, foram levantados com função militar de resguardar a costa Fluminense, de Saquarema a Macaé, das invasões de piratas e corsários franceses, ingleses e holandeses.

Após o almoço, fomos ao Museu Regional do Sal para conhecermos mais sobre a salicultura em nossa região e a história do sal. Foi uma visita extremamente emocionante! Cabe aqui meus agradecimentos à direção do Museu e, especialmente, ao amigo Alexandre, o historiador do Museu que nos acompanhou na visita guiada.

A promotora de Justiça aposentada, Marise Alves, uma das participantes do nosso passeio histórico, disse o seguinte do museu em suas redes sociais:

"Em São Pedro da Aldeia/RJ está localizado o Museu do Sal. Construído recentemente ele reúne um acervo sobre a evolução da indústria do Sal na região dos Lagos. São muitas histórias que remontam desde as múmias do Egito, que se conservavam através do sal, ate os dias de hoje. Lindo!"

Na primeira sala que visitamos, assistimos dois lindos vídeos sobre a História do Sal na Região dos Lagos. O saudosismo, as lembranças, a emoção e a tristeza de saber que as Salinas que sempre foram as marcas indeléveis das nossas cidades estão morrendo. Seus dias estão chegando ao fim. Em seu lugar surgem condomínios e loteamentos da abjeta especulação imobiliária.

Na antiga Casa do século XIX, que atualmente abriga o Museu Regional do Sal, tem até uma senzala aos fundos, isso para nos lembrar que foi a mão-de-obra escrava quem tocou, por mais de um século, a indústria salineira no entorno da Laguna de Araruama. Gostamos de falar e exaltar os salineiros, os donos das salinas, como o alemão Lindenberg, além de Joaquim Nogueira e de Miguel Couto Filho, mas esquecemos que o trabalho dos escravizados foi o responsável pela produção e escoamento do sal.

Os inúmeros instrumentos salineiros do Museu Regional do Sal, as lindas maquetes e os quadros fizeram todos os participantes viajar no tempo e lamentar por uma cultura que está moribunda em nossa região. Ninguém sabe quando a paisagem que nos marcou por séculos desaparecerá completamente. Mas, por certo, não demorará muito até que todas as nossas Salinas desapareçam e só viverão em nossa memória.

Foi lindo, emocionante e muito gratificante caminhar sobre a História de São Pedro da Aldeia e dos seus lugares de inefável memória!

Agradeço aos participantes pela confiança em nosso trabalho, a Secretaria de Cultura pelo apoio, a Base Aéreo Naval por ter aberto suas portas, ao Sr. Valdevir Soares pelas histórias e ao amigo Davi Monteiro por disponibilizar seu tempo e seu rico conhecimento. Sou eternamente grato por possibilitarem tamanhas experiências.

Acioli Junior
Enviado por Acioli Junior em 02/07/2024
Reeditado em 02/07/2024
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