TRETA ENTRE CRONISTAS DO JORNAL A UNIÃO, NA PARAÍBA

Na edição do Jornal A União desse sábado, dia 29/06, o cronista Carlos Pereira dialogou com o texto, do também cronista Tiago Germano, publicado no sábado passado.

 

O jovem cronista Tiago Germano , na verdade um meia-idade, fundamentou seu texto de do dia 22/06 numa frase do escritor Millôr Fernandes: “Em ciência, leia sempre os livros mais novos. Em literatura, os mais velhos”. Tiago não concordou com essa ideia e tal qual Belchior fundamentou seu texto com base no "o novo sempre vem". Argumentou que os velhos já foram novos um dia e coisa e tal. O título da referida crônica é (Não) leiam Millôr Fernandes. Hoje, sete dias depois, vem Carlos Pereira e diz “Vou continuar lendo Millôr Fernandes e Nelson Rodrigues.”

 

De certa forma entendo o Tiago. Devemos dar a chance do novo também ter o seu lugar ao sol. Mas por outro lado, onde podemos encontrar esse novo literário? As grandes editoras só querem os já consagrados, sejam gringos ou ganhadores de prêmio reconhecidos, tipo o Jabuti, o SESC e outros de renome que anualmente têm seus editais lançados. Como as editoras atuam em um mercado, o seu objetivo, no frigir dos ovos é o money. Nenhum problema nisso. Eles não querem perder tempo formando alguém se já podem lançar um best seller.

 

Já sobre os grandes concursos e editais, no meu acanhado ponto de vista, para alguém ganhar ser coroado com um prêmio desses, a sua escrita tem que andar no trilho do Editorial de quem os promovem e isso afasta alguns bons competidores. Como é mesmo o nome do manual no qual o candidato tem que construir seu trabalho a fim de agradar determinado grupo? Ideologia! Se o teu texto não se casar com a ideologia do jurado ou do patrocinador do concurso, é xau e bênção para você. Mas isso o Tiago Germano entende. Vi em seu currículo que ele já foi finalista do Jabuti. Parabéns para ele.

 

Continuando a nossa busca pelo novo literário. Pois bem, se o novo escritor não entrar o cenário dos grandes circuitos literários, então ele vai para a linha das pequenas editoras e talvez da autopublicação. E nesse contexto, um em muitos conseguem obter o resultado desejado. Motivo para desistir? Jamais. Vamos persistir. A nossa luta não é contra moinhos de vento, apenas.

 

Recentemente conheci um nicho interessante, são livros tipo os pornochanchadas e dramalhões dos anos 60 e 70 só que atualizados e adaptados à nossa época. Na Amazon é o que mais tem ao preço de até 1,99, quando não de graça, só para promover o (a) autor(a). Na verdade, são escritoras, em sua maioria, que publicam títulos como: A empregado do bilionário ficou grávida e não sabe quem é o pai, ou o Piloto Indeciso, isso porque ele está namorando três aeromoças ao mesmo tempo e não sabe com quem ficar. Não sei mais detalhes sobre o enredo uma vez que não li nada do tipo, mas pelo que eu ouvi falar é algo bem açuquinha recheado com cenas picantes, mas que tem arrebatado milhares de leitoras. Bem, acredito que não seja esse o novo que Tiago Germano defenda, e se for, nenhum problema também.

 

Outro lugar onde podemos encontrar os novos autores é na grande rede. Blog pessoais e sites como o Recanto das Letras escondem alguns bons de pena. Escrevem em sua maioria anonimamente. Há uns anos acompanho o blogue do escritor, também paraibano, Braulio Tavares, “Mundo Fantasmo”. São mais de cinco mil textos da mais alta qualidade e gratuito à nossa disposição. Mas o Braulio está longe de ser da nova safra. Na verdade, eu não conheço nenhum novo escritor de sucesso, infelizmente. Talvez falte divulgação. Nesse quesito, ressalto uma falha minha, eu não uso redes sociais. Pode até haver novos escritores, coletivos, clubes e confrarias e eu é que estou de fora. Pode ser isso também.

 

Agora falando sobre a defesa que o Carlos Pereira fez sobre os escritores da velha guarda, os já consagrados. Os nomes de peso e considerados clássicos de nossa literatura. A minha balança pende mais para o lado do Carlos, não vou mentir. Justamente pela dificuldade de encontrar e quando o encontro, a dificuldade de o reconhecer o novo.

 

Machado de Assis já foi um iniciante. Da mesma época temos outro escritor, o Coelho Neto. Inclusive também membro fundador da ABL. Escrevia tão bem quanto Machadão, mas quem se lembra do Coelho? Ele era ruim? Não, de forma alguma. No entanto, o projeto político aos poucos foi sorrindo para a perpetuação do Bruxo em detrimento do outro. Tira-se o mérito de Machado? Nunca. Never. Jamais.

 

Machado é clássico. Nelson Rodrigues e Millôr também. O clássico nada mais é do que um novato que foi se perpetuando. E ler os clássicos é seguro. Porque é algo que já deu certo. Nem todos vão gostar, claro. E ninguém está aqui para toca fogo na biblioteca de ninguém. Mas se algo está aí a 100 anos é porque tem algo a nos contar.

 

Para não dizer que não li nada novo nos últimos meses, li o livro sensação “A biblioteca da meia noite.” Mais de zilhões de unidades vendidas ao redor do mundo, e é desses que as grandes editoras gostam! O resultado? Era melhor eu ter ido ver o filme do Pelé. Essa experiência negativa invalida todas as novidades que estão sendo publicadas? Claro que não. Tenho certeza de que algo novo e bom está circulando por aí, e vou ficar empolgado quando vê-lo. Já os clássicos, se chegou até hoje é porque a sua mensagem já foi aprovada e merece nosso respeito.

 

George Barbalho
Enviado por George Barbalho em 29/06/2024
Reeditado em 02/07/2024
Código do texto: T8096665
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